[Resenha - Planeta] Era uma vez... Eu!

Título: Era uma vez... Eu!

Criação: Beo da Silva | Eduardo Lima

Criação/ Ilustrações: Maurício Carneiro

Texto: Paulo Lins

Editora: Planeta

Skoob

Em Era uma vez... Eu!, o leitor encontrará o indesejável, o descartado. Verá as faces daquilo com que convivemos no céu, na terra e no mar, e que tanto renegamos: ele, o lixo. Este que cresce, cada vez maior, tomando todos os espaços em cores sujas, em papel amassado, em texturas que incomodam e exalam pela imagem o odor, o incômodo permanente que buscamos esconder. Até que de tão grandioso este lixo não possa mais ser escondido, nos absorvendo, sendo nosso próprio fim: ‘’Seus olhos serão lixo não reciclável, ainda que tenham visto todas as metáforas do infinito. ’’

Gente, eu não havia lido a sinopse desse livro antes de começar a leitura. Então, confesso que encontrei algo bem diferente do que eu esperava. Ele é em capa dura, e tem um formato maior que o usual... é todo ilustrado, todas as páginas são coloridas... o que a minha mente maluca pensou? Que era um livro para crianças, que abordava o tema do lixo. O que eu saberia que não era verdade se tivesse observado a capa. Em primeiro lugar, não é do selo Planeta Infantil. Em segundo lugar, sei lá, esse ser que aparece no meio do lixo é meio assustador, e acho que haveria grandes chances de crianças chorarem ao vê-lo. Em terceiro lugar, e não menos importante, a sinopse, que consta na contracapa, se tivesse sido lida, com certeza me mostraria que eu não encontraria nada de infantil nessa obra. 

Vou resumir para vocês como essa história começou a ser criada. Em 2010, Beo da Silva e Maurício Carneiro participaram de uma mostra coletiva em Londres. A mostra teve a duração de apenas um dia, em um prédio prestes a ser demolido, e o objetivo era contar um pouco da história do lugar. Os dois escolheram abordar um espaço diferente: a lixeira do prédio. Com isso, nasceu a criatura que está na capa, que habitava a lixeira, e que precisou sair para o mundo depois que perdeu seu lar. Assim, surgiu esse livro.

Já encontramos uma ótima reflexão na introdução, chamada Impermanência e durabilidade no mundo de homens e coisas. É abordada a necessidade do homem de sempre criar algo novo, e depois criar algo melhor, e é falado que as coisas criadas são permanentes, mas acabam tendo um único destino: se tornam lixo.

Durante a narrativa, que é feita em uma grande poesia, é confirmado o quanto tudo é descartável... somos levados a refletir sobre o que estamos fazendo não só com as coisas, mas também com as outras pessoas e com nós mesmos.

O visual do livro está lindo (ok, eu sei que o lixo não é nada lindo), os textos casam bem com as imagens, ambos são muito impactantes. A leitura é bem rápida, mas não é fácil esquecer o que foi lido, não dá para simplesmente deixar para lá e fingir que não é importante. O livro é daqueles que ficam com a gente por um longo tempo, e nos fazem realmente repensar atitudes. Curti bastante a leitura.