[Resenha - Arqueiro] O Doador de Memórias

Título: O Doador de Memórias

Autora: Lois Lowry

Tradução: Maria Luiza Newlands

Editora: Arqueiro

Skoob

Em O doador de memórias, a premiada autora Lois Lowry constrói um mundo aparentemente ideal onde não existem dor, desigualdade, guerra nem qualquer tipo de conflito. Por outro lado, também não há amor, desejo ou alegria genuína. Os habitantes de uma pequena comunidade, satisfeitos com a vida ordenada, pacata e estável que levam, conhecem apenas o presente – o passado e todas as lembranças do antigo mundo lhes foram apagados da mente. Um único indivíduo é encarregado de ser o guardião dessas memórias, com o objetivo de proteger o povo do sofrimento e, ao mesmo tempo, ter a sabedoria necessária para orientar os dirigentes da sociedade em momentos difíceis. Aos 12 anos, idade em que toda criança é designada à profissão que irá seguir, Jonas recebe a honra de se tornar o próximo guardião. Ele é avisado de que precisará passar por um treinamento difícil, que exigirá coragem, disciplina e muita força, mas não faz ideia de que seu mundo nunca mais será o mesmo. Orientado pelo velho Doador, Jonas descobre pouco a pouco o universo extraordinário que lhe fora roubado. Como uma névoa que vai se dissipando, a terrível realidade por trás daquela utopia começa a se revelar. 

Em O Doador de Memórias, de cara já temos a maior parte das características de uma distopia escancaradas. Existe um governo absolutamente controlador - ele define com quem as pessoas vão se casar (pelo menos existe a escolha de se casar ou não), que criança será enviada a determinada família (é tipo uma nova versão da cegonha, você pede permissão para ter um filho e um bebê lhe é entregue no mês de dezembro, caso seja autorizado). A profissão de cada um é determinada aos doze anos, com base nas observações de um conselho. 

Há muito de utopia, a sociedade é organizada em cada detalhe e aparentemente perfeita, todos sabem (quase) tudo o que uma pessoa passa desde o seu nascimento até sua separação da sociedade (sua dispensa). Cada cidadão recebe roupas, alimento, educação, tratamento de saúde...  tudo é igual para todos. Não existem mais famílias, e sim unidades familiares, que perduram pelo tempo que forem necessárias. Todos têm tudo o que precisam - mas vivem apenas no presente, não têm a menor ideia do passado da humanidade; além de não conhecer sentimentos como amor ou desejo. E é tudo o que vou dizer para vocês sobre a história.

É um livro curto, e fiquei extremamente brava pela sinopse abranger quase a metade das páginas. Achei que nada mais fosse acontecer, mas estava enganada. Acontece muita coisa, muita mesmo, depois da parte que conhecemos previamente. A sociedade é desvendada aos poucos pelo protagonista, e doía em mim cada descoberta que o garoto fazia. É um tanto quanto triste ver a inocência ser tirada de alguém.

- Se tudo é sempre o mesmo, então não há escolhas! Quero acordar de manhã e decidir coisas!

A narrativa é ágil e bem gostosa de ler. Fiquei bem aflita por algumas características presentes na sociedade, mas uma distopia é feita para incomodar, para fazer a gente pensar sobre onde podemos chegar um dia, e o que é preciso fazer para que nunca tenhamos que enfrentar uma situação como a que estamos acompanhando. Então, com certeza, O Doador de Memórias cumpriu seu papel.

A única coisa que não curti foi ser uma série formada por quatro volumes. Como o livro tem apenas 190 páginas, não acho que a história precisasse terminar como terminou, a autora poderia ter ido além e ter feito no máximo uma trilogia, ou quem sabe até uma duologia.

Meu plano era ver o filme assim que terminasse de ler. Mas aí comecei a ler a entrevista com a Taylor Swift que está no final do livro, e descobri que a adaptação com certeza vai contar uma história bem diferente. Só pela personagem que ela representa no filme, já dá para saber que não será nada fiel. Então acabei desanimando. Agora é torcer para ficar pelo menos mais alguns dias em cartaz, porque mesmo com as diferenças quero assistir.