[Resenha - Jangada] Só o amor pode curar

Título: Só o amor pode curar

Autora: Clara Benício

Editora: Jangada

(Grupo Editorial Pensamento)

Skoob | Leia um trecho

Bia é uma professora de literatura, que estende seu amor pelos livros ao trabalho voluntário que faz no hospital onde o irmão é médico, lendo trechos de obras literárias clássicas para os pacientes. Casada com Rodrigo, ela leva uma vida tranquila, ainda que afetivamente incompleta. Após um grave acidente na serra de Petrópolis, Bia adquire o dom de enxergar a aura das pessoas. De uma forma inesperada, ela conhece Léo, um jovem estudante com uma aura brilhante e o mesmo gosto por livros antigos, que faz seu coração bater mais forte e ambos sentem como se já se conhecessem há séculos. A relação de amizade entre eles acaba se tornando um amor arrebatador. Impedidos de viver esse amor, Bia e Léo vão ter que enfrentar muitos dilemas até que o destino lhes dá duas opções: cada um seguir o seu caminho ou atender ao apelo da alma e do desejo e viver plenamente esse grande amor.

A sinopse de Só o amor pode curar meio que muda a ordem das coisas... na verdade, a história começa a ser contada a partir do acidente que a protagonista, Bia, sofre na serra de Petrópolis, aos 17 anos. Acompanhamos sua formatura no ensino médio; o período da faculdade; seu primeiro trabalho, que nada tem a ver com literatura... enfim, não dá para falar de todas as etapas da vida dela que a autora descreve, mas a história vai de 1990 a 2013. Ou seja, existe uma justificativa muito boa para o livro ter 494 páginas, já que tem muita coisa para ser contada. Então, espero que me perdoem por eu não situar vocês muito bem. É extremamente complicado contextualizar uma história tão extensa.

Não é um livro para ser lido com pressa, porque obviamente muita coisa acontece. Em alguns momentos a narrativa é ágil, em outros ela se torna um pouco lenta. Mas achei que isso combinou com o enredo, já que ninguém tem uma vida que obedece sempre a um mesmo ritmo, não é mesmo? Claro que a Bia passou por muita coisa em 23 anos, e teve algumas fases mais reflexivas. Principalmente porque tem um grande coração, se preocupa em fazer o que é certo e busca proporcionar felicidade a todas as pessoas ao seu redor. Embora a sinopse possa dar a entender que temos um triângulo amoroso, e até que ela pode até ter traído o marido, garanto a vocês que não é isso o que se passa.

- Talvez eu tivesse esperança de (...) que pudesse amar só a mim e nada mais. - Isso não existe (...), você sabe disso. Ninguém deve amar uma pessoa mais que tudo, mais que a si mesmo. Isso é autoanulação!

Me incomodou um pouco o excesso de "amigo" e "amiga" no meio dos diálogos. Talvez porque eu não fique chamando as pessoas de amiga e amigo, e não tenha conseguido achar isso natural. Mas gostei muito da Bia ter um melhor amigo com quem nunca se envolveu de forma romântica, eu tenho amigos assim e as pessoas têm dificuldade para entender que esse tipo de amizade possa existir.

Esse amigo, o Rapha, é o porto seguro dela. Embora tenha um excelente relacionamento com a família, não é sempre que acha conveniente perturbar seu único irmão que vive na mesma cidade que ela, já casado e com vários filhos, quando precisa desabafar. Então sempre busca apoio no Rapha, que é um cara muito leal e gentil, e que tem a capacidade de fazê-la ver as coisas por outros ângulos, para que possa tomar suas decisões.

Gostei bastante das personagens, várias estão lá desde o início, outras a vida vai colocando no caminho da protagonista em momentos diversos. É muito legal ver como as pessoas novas acabam permanecendo na vida da Bia e fazendo a diferença nela. 

Uma das minhas partes preferidas da história foi o trabalho voluntário que a Bia faz, lendo para doentes em um hospital. Ela dedica grande parte de seu tempo livre a isso, e é algo que se torna um projeto maior à medida que o enredo se desenvolve.

A palavra escrita num livro é um instrumento muito poderoso. Usada da maneira correta, pode fazer coisas muito boas, pode ajudar muito. Pode dar alegria, oferecer uma mão amiga, acalmar, salvar, elevar o espírito...

Preciso avisar que a protagonista sofre bastante no decorrer da história. Acredito que a autora deu a ela uma quota de sofrimento maior que o normal, mas ela também ganhou sua quota de felicidade. Achei que o livro não fosse chegar a me emocionar, mas quase no final ele acabou me arrancando algumas lágrimas. É uma história bonita que passa boas lições.