[Resenha - Galera Record] Corações de Alcachofra

Título: Corações de Alcachofra

Autora: Sita Brahmachari

Tradução: Camila de Mello Santos

Editora: Galera Record

(Selo Galera Junior)

Skoob

Mira Levenson tem 12 anos e raros momentos de tédio. Mas não imaginava que seria obrigada a lidar com um sentimento totalmente novo e possivelmente o mais difícil de sua vida em meio a todo esse turbilhão: sua avó, Josie, uma excêntrica e animada pintora, está com câncer, e pretende encarar a última fase da vida como sempre encarou tudo, de cabeça erguida e com bom humor. Enquanto tenta lidar com o que está por vir (com a ajuda de seu presente de aniversário, um diário), Mira vai descobrindo que não é a única com segredos e, aos poucos, compreende que, assim como um coração de alcachofra, nosso próprio coração sempre tenta proteger a parte mais preciosa.

Mira é uma garota com a vida bastante agitada. Aos 11 (praticamente 12) anos, um irmão de 9 e uma irmã bebê, seus momentos em família são sempre cheios de confusão. Além dos irmãos, tem seus pais; e uma de suas avós, Josie, é muito presente em sua vida. Só que a avó está bem doente, com câncer em estágio avançado, e ela precisa aprender a lidar com isso. 

Josie procura ser quem sempre foi: uma mulher cheia de vida, que acredita no amor, ama a arte e encara tudo com bom-humor. Procura aproveitar cada momento que ainda possui para ensinar à neta as coisas mais preciosas que aprendeu. Mas será um desafio muito grande para Mira acompanhar aquela pessoa tão especial para ela perdendo as forças com cada vez mais rapidez?

Se você não consegue pensar em nada gentil para dizer a alguém, não diga nada.

Tenho uma queda por histórias com avós, mas não imaginei que essa fosse me tocar tanto. Amei a narrativa, amei todas as personagens que a autora criou. É o primeiro livro dela, mas eu nunca imaginaria. Tudo na história é muito bem entrelaçado.

No início, Mira é uma garota bastante frágil. Sofre bullying na escola, mas não se sente à vontade para falar com ninguém sobre isso. Com o tempo, encontra dentro de si uma força que nunca imaginou que estivesse lá, e aprende que nem sempre é ruim se expor, algumas vezes isso é necessário para seguir em frente.

Às vezes, por eu não falar muito, alguns adultos acham que eu também não penso muito.

Josie é encantadora. Uma pessoa naturalmente radiante, que traz luz para a vida das pessoas à sua volta. Uma mulher do bem, que procura manter sempre uma energia positiva circulando ao seu redor. Aos poucos, vários aspectos de sua vida são revelados e ela se torna alguém ainda mais admirável. Amada pela família e pelos amigos que conquistou em seus 74 anos.

A leitura fluiu para mim de uma forma incrível, e me emocionei (às vezes chorando de um jeito nada discreto) em vários momentos. Nada no livro é dispensável, e ele transmite lições lindas, como a que explica o título.

Os bebês (...) começam com corações delicados, amorosos e confiantes, mas gradualmente, aprendem a se proteger e, com o passar dos anos, criam camadas cada vez mais duras. Olhe isso! As camadas externas da alcachofra são tão duras que nem podem ser comidas. (...) Essas camadas externas mais duras lhes impedem de sentir muitas coisas, então as pessoas vivem com coraçõezinhos endurecidos que não podem ser tocados por ninguém. (...) Os adultos aprendem a não sentir ao se proteger de sentir muito.

Meu único problema com o livro foi a revisão. Achei extremamente irritante a falta do ponto final em várias frases. Isso acontecia sempre no fim dos parágrafos, então não prejudicou o entendimento da história, mas para quem tem problemas com isso (como eu) pode ser algo bem desagradável.

Espero que isso seja corrigido em uma próxima edição, pois essa é uma história que merece ser lida por todos. É triste, sim, mas também fortalece nossa esperança em um futuro melhor, um futuro com pessoas mais sensíveis e empáticas, que com certeza poderão fazer do mundo um lugar melhor para se viver.