[Resenha - Belas-Letras] Insana: Meu Mês de Loucura

Título: Insana - Meu Mês de Loucura

Autora: Susannah Cahalan

Tradução: Bruno Mattos

Editora: Belas-Letras

Leia um trecho | Skoob

Uma jovem jornalista com uma carreira promissora em Nova York se vê aprisionada em sua própria insanidade com uma doença que nenhum médico consegue diagnosticar. A rotina no jornal onde ela trabalha é substituída por inexplicáveis alucinações, surtos e ataques de paranoia – os mesmos sinais atribuídos a casos de possessão. Poderia se tratar de um episódio de House, mas é a história de Susannah Cahalan, que escreve com impressionante riqueza de detalhes o período de terror em que se transforma em desconhecida para si mesma e seus familiares. Sem poder contar com a memória para escrever sua reportagem mais difícil, Susannah recorre aos próprios rascunhos do período em que esteve doente, além de relatos de médicos, familiares, namorado e documentos para construir um drama psicológico sobre os caminhos misteriosos e assustadores do nosso próprio cérebro.

Susannah é uma jornalista que está vivendo uma ótima fase, tanto no jornal em que trabalha quanto em sua vida pessoal. Mas, de repente, as coisas começam a mudar. Ela começa a ter dores de cabeça, sintomas de gripe, uma dormência estranha, pulso acelerado, perda de concentração e, o que lhe parece mais grave: torna-se paranoica e começa a ter alucinações. Vê imagens e cores de uma forma esquisita em alguns momentos, estranha coisas completamente corriqueiras e familiares. Passa a se sentir uma irresponsável no trabalho, simplesmente não consegue se concentrar, tem surtos maníacos e eventualmente mania de grandeza. Não consegue se reconhecer mais, nem entender o que está acontecendo, mas está disposta a descobrir.

Eu, particularmente, não acho que contar a doença que ela teve seja spoiler. Mas, como alguém pode considerar assim, vou deixar com a fonte branca. Quem quiser saber, selecione. Susannah foi diagnosticada com encefalite autoimune de receptor anti-NMDA, depois de quase um mês internada. Nunca ouviu falar disso? Eu também nunca tinha ouvido falar antes do livro. Resumidamente: é uma doença em que o corpo ataca o cérebro. 

A doença havia sido descoberta em 2007, e ela diz que deu sorte por encontrar as pessoas que encontrou em seu caminho, de estar nas mãos de um " Dr. House da vida real". Muitas pessoas, mesmo hoje, continuam sem diagnóstico. O primeiro médico com quem teve contato disse que o que ela tinha era apenas uma síndrome de abstinência porque estava bebendo demais, o que não estava acontecendo... e nem quis lhe dar atenção depois que ela, já curada, o procurou para falar sobre o que teve realmente.

Antes de escrever o livro, Susannah escreveu um artigo para o jornal em que trabalha até hoje, o New York Post. Depois, o artigo acabou se transformando em livro. Acredito que o objetivo da autora seja alertar para essa doença que, muitas vezes, não é identificada; por isso não considero spoiler contar que doença é essa, afinal. Tem tratamento, apesar de ser um tratamento caro e complexo, mas as chances de sucesso estão diretamente ligadas à rapidez do diagnóstico - claro que há exceções, a medicina não é bem uma ciência exata, ou não teríamos tantos casos de erros médicos por aí. 25% das pessoas, mesmo diagnosticadas corretamente, acabam nunca recuperando sua personalidade, ou até mesmo falecendo. O que quer dizer que muita gente acaba morrendo dela sem ter a menor ideia disso. Até o diagnóstico exige procedimentos complexos e caros... provavelmente, ainda está longe o dia em que será fácil identificá-la. E o que achei ainda mais cruel, foi que a doença volta em 20% dos casos - e não existe um prazo para que isso aconteça. A pessoa pode viver o resto de sua vida com essa incerteza.

Susannah, felizmente, teve o apoio da família e do namorado para lutar uma árdua batalha. Poderia ter sido diagnosticada com uma doença psiquiátrica aleatória e nunca receber o tratamento correto. Todos lutaram por ela. O mais incrível é que, para escrever o artigo e o livro, teve que recorrer às lembranças dos outros, a anotações em diários, e a vídeos do hospital em que esteve internada, porque não guarda basicamente nenhuma lembrança do tempo da internação. A doença afetou sua memória, no que se tratava de novos fatos, e só depois de deixar o hospital ela voltou a conseguir se lembrar de acontecimentos recentes.

Devorei grande parte do livro, do início até quando o tratamento foi iniciado, mesmo com todos os termos médicos. Uma das minhas séries preferidas é House, então não tenho nenhum problema com terminologias estranhas, mesmo que eu não as entenda... a autora fez um bom trabalho, procurou explicar sempre o que estava sendo dito, mas chegou um momento em que comecei a achar os detalhes da história um pouco cansativos, e aí minha leitura se tornou mais lenta. Mesmo assim, gostei bastante.

E adivinhem só? Insana vai virar filme! Segundo informações fornecidas pela editora, as gravações do longa estão previstas para iniciar no próximo mês. A atriz Dakota Fanning interpretará Susannah Cahalan e Will Poulter, de As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada, será o namorado de Susannah no filme. A obra será dirigida pelo diretor Gerard Barrett, cujo mais recente filme, Glassland, foi prestigiado no Festival 'Sundance'. A produção do filme ficará por conta de Charlize Theron, Beth Kono e equipe.