[Resenha - Pandorga] Cartas para Palavra

Título: Cartas para Palavra

Autor: Adriano Gilberti

Editora: Pandorga

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Quanto tempo dura um amor? Os mais realistas dizem que o tempo de duas almas proporcional a vontade de fazer funcionar um relacionamento. Os românticos reclamam a eternidade para um verdadeiro amor. Mas ninguém discute a certeza de que, na disposição de amar, o homem encontra seu sentimento mais sublime. E nem os anos envelhecidos por inúmeras décadas conseguem apagar algo que tenha surgido pela beleza de duas pessoas que vivenciaram este amor. Quase um século depois que Miguel e Priscila se conheceram, o sentimento se transforma em um conjunto de dados, para virar algo que chamamos de história, e assim, curioso ponto de interesse de estudiosos. E mesmo que duas pessoas comuns e anônimas possam ganhar o curioso destino de uma referência histórica, ainda assim, serão apenas um homem e uma mulher buscando apaixonadamente fazer valer o seu direito de amar.

Vocês não têm ideia da surpresa que foi encontrar Cartas para Palavra entre os lançamentos da Pandorga. Quando bati o olho no nome do autor, tive certeza de que o conhecia, Adriano Gilberti não é um nome comum. E sim, eu realmente o conheço, apesar de ter perdido o contato há muitos anos... estudamos teatro juntos! O livro já tinha chamado a minha atenção pela capa e pela sinopse, mas saber que foi escrito por uma pessoa que respeito e admiro me fez querer lê-lo ainda mais.

Relendo a sinopse agora, a entendo muito melhor. Isso porque este livro é algo tão diferente que não passou pela minha cabeça do que se tratava. Vou tentar contar resumidamente para vocês. No final do século XXI, surgiu o interesse de entender mais sobre uma geração anterior, a Geração X, e para isso os registros da primeira metade do século começaram a ser pesquisados (sim, vocês entenderam certo, a primeira metade do século XXI vai de 2001 a 2050, o que faz esse livro ser um livro do futuro! rs). 

Foram encontradas dentro de um "antigo aparelho eletrodoméstico" várias cartas de Miguel, escritas para destinatários diversos: uma samambaia, um televisor velho, uma bolinha de tênis... sendo o destinatário principal, e que considero mais importante: a Palavra. Os estudiosos concluíram que valia a pena pesquisar uma geração tendo como base os escritos desse indivíduo.

Espero sinceramente que entenda que a escrita tem alma de vento. Deixe o que vier correr pelas janelas de seu apartamento sem a intenção de guardar o que nasce em seu íntimo.

Como dito na sinopse, existe um romance no livro. Mas ele não é o foco, pelo menos não foi a impressão que tive. O foco é a Palavra, a forma como ela é essencial para a raça humana. A Palavra toma forma neste romance e nos mostra que também tem sentimentos. Nada a faz mais feliz que encontrar alguém que faça bom uso dela, que escreva com o coração.

Palavra é assim: diz do gênero feminino. Possa eu classificá-la como mulher de têmperas. Trate-a mal e verá as malas prontas no final do dia. Mas o que eu faço? Já pedi em casamento. Já tratei com carinho e papel de seda. Já mudei a gramatura e até, malgrado, comprei um computador para me sentir mais "modernoso". Já ofereci meu mundo de pensamentos, mas a dama argumenta liberdade.

E, por falar em coração, não é por não ser o foco que o amor deixou de ser abordado. A história de Miguel e Priscila prova que o destino é capaz de fazer planos para nossas vidas que nós nunca pensaríamos em fazer.

A escrita do Adriano me envolveu desde o início. Acreditei em cada linha que li. Me senti realmente como uma cidadã do futuro pesquisando sobre um tempo que não tive a oportunidade de viver, achei isso incrível. Para uma apaixonada por viagens no tempo, ter a impressão de que você se encontra no futuro é algo espetacular. Não faltam críticas à forma com que o homem trata hoje seu semelhante e o planeta.

As cartas contam grande parte da história, mas também temos conversas no msn, no whatsapp, e-mails, telefonemas, poemas e esclarecimentos feitos pelo compilador da história (os esclarecimentos foram escritos em 2095). No final, foi colocada uma "ficha técnica", que nos permite conhecer a equipe de pesquisadores envolvidos, incluindo o coordenador da "Pesquisa em Tecnologias Arcaicas", incluindo aí algumas coisas que citei no início do parágrafo.

O livro está lindo. Encontrei apenas um erro, ou seja, revisão praticamente perfeita. As folhas são amarelas, a fonte de um tamanho confortável. Assim que ele chegou, percebi um detalhe na orelha da contracapa que me deixou enlouquecida.

É ou não é muita maldade colocar essa carta aí e dizer pra só ler depois de terminar o livro? rs... 

Não sou fã de notas de rodapé, nunca fui. Normalmente, considero que elas me tiram do clima da leitura, mas não foi o que aconteceu nesse livro. Como eu disse lá no início, é um livro do futuro, então eu ficava bem ansiosa para que elas aparecessem, principalmente quando eram sobre anos posteriores a 2015... Achei impressionante a forma como seu uso foi bem trabalhado, eu não sentia que minha leitura estava sendo interrompida, apenas enriquecida. Sim, agora acho que é por isso que notas de rodapé existem. Mas na maior parte das vezes não acredito que cumpram seu objetivo.

Se você é um apaixonado pelos livros, e consequentemente pela Palavra, não pode deixar de conhecer essa história. Sinto que não consegui transmitir o quanto o livro me encantou, mas fiz o que pude. Espero que vocês leiam e amem tanto quanto eu. E tem mais: esse livro não é apenas um livro. Mas vou deixar vocês curiosos, isso é assunto para outra postagem.

Creio, por ingenuidade, que livros são geometrias encantadas. Dentro daquelas dimensões encorpadas em celulose, sinto que todas as distâncias têm o passo dos olhos que percorrem os parágrafos. Sinto que, ali, tenho as asas de Ícaro. A extensão da longa cauda do cometa Halley. A incerteza dos céticos. A segurança dos dogmáticos. A lágrima do aprender que apenas não se permite borrar os livros, mas deve umedecer nossas almas de sentimentos que valham a pena.