[Resenha - Fundamento] Um momento, uma manhã

Título: Um momento, uma manhã

Autora: Sarah Rayner

Tradução: Maria de Lourdes Inda Botelho

Editora: Fundamento

(Selo Onyria)

Número de páginas: 312

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7:44. É hora do rush no trem de Brighton a Londres. Um evento irá mudar para sempre a vida de três passageiras. Sem ter mais o que fazer e por força do hábito, Lou analisa discretamente os passageiros. Perto dela, está um casal. A mulher parece distraída e o marido, ao seu lado, acaricia carinhosamente a mão dela. De repente essa cena quase íntima é interrompida abruptamente: o homem tem um infarto. Karen, a mulher, não consegue reagir. O que há de errado com Simon? O trem para. Os paramédicos chegam. Alheia ao alvoroço que está acontecendo em outro vagão, Ana deixa sua revista de lado. Por que o trem parou? Ela tem uma importante reunião e não pode se atrasar. Depois do tumulto na chegada à estação, Ana e Lou acabam compartilhando um táxi para Londres. São duas desconhecidas unidas pelo episódio daquela manhã: Lou testemunhou os últimos momentos de vida de um homem, cuja mulher, Karen, é coincidentemente a melhor amiga de Ana. E assim os destinos dessas três mulheres se entrelaçam, tal como os passageiros que se cruzam nas estações. Para Karen, Ana e Lou, a partir daquele momento, naquela manhã, a vida não será mais a mesma... Uma história emocionante e envolvente sobre família, amor, perda e, acima de tudo, sobre a força das amizades forjadas pelas circunstâncias da vida. Assim como o trem, a vida precisa seguir em frente. E Karen, Ana e Lou sabem disso.

Não consigo situar vocês melhor na história do que a sinopse desse livro. Faz tempo que não vejo uma tão perfeita, que só fala realmente dos acontecimentos essenciais. Normalmente só leio as sinopses depois de terminar de ler o livro, então podem confiar em mim e ler essa, é completamente sem spoilers. De qualquer maneira, vou tentar resumir.

Lou está no trem de 7:44 que vai de Brighton a Londres. Ela precisa pegá-lo quatro vezes por semana para trabalhar. É terapeuta, e tem o hábito de observar as pessoas durante o trajeto. Perto dela, está um casal que lhe chama a atenção pelo carinho que percebe entre eles. De repente, o homem tem um infarto. A ajuda chega rapidamente, mas não há nada a ser feito, a morte foi imediata. 

O trem precisa ser desocupado e Lou acaba dividindo um táxi com uma desconhecida, Ana, que estava no trem, mas em outro vagão, e fica sabendo por ela de todos os detalhes do acontecido. Quando estão finalmente chegando a seu destino, o celular de Ana toca. É sua melhor amiga, Karen, com uma notícia aterrorizante: seu marido, Simon,  acaba de falecer. Eles eram o casal que Lou observava.

O livro é muito bem escrito, todos os fatos são bem amarrados. Ele é narrado em terceira pessoa e acompanhamos a vida dessas três mulheres durante uma semana (depois existe um epílogo). Então, temos sete partes, cada uma representando um dia da semana, com indicações de horários. 

Foram colocados flashbacks das vidas das três dentro dessas partes. Foi tranquilo identificar se tratava-se de passado ou presente na maior parte do tempo, porque quando havia alteração entre um e outro eram colocados alguns asteriscos para separar a narração. Só achei um pouco confuso entender algumas vezes, quando mudava o dia ou a hora e o texto se iniciava com uma cena do passado, sem nenhum aviso.

A autora aborda temas importantes no livro, como alcoolismo, violência doméstica e homossexualidade (focando na dificuldade de assumir a opção sexual perante a família e a sociedade em geral). A leitura fluiu muito bem para mim. Após a morte repentina do Simon, as protagonistas acabam tendo que parar para repensar suas vidas. Incrivelmente, Karen, a viúva, é a que tem menos problemas a enfrentar. Mesmo que tenha perdido um companheiro de 20 anos, ao menos sabe que teve 20 anos muito felizes ao lado dele. Lou e Ana não podem dizer que os últimos anos de suas vidas tenham sido felizes de verdade.

Não foi uma leitura emocionante como pensei que fosse ser, mas o livro é extremamente envolvente e me fez refletir bastante. Ele nos faz pensar sobre a fragilidade da vida, que pode ser interrompida a qualquer momento, e sobre o quanto é importante viver cada dia da melhor forma possível.