[Resenha - Editora Record] Olympe de Gouges

Título: Olympe de Gouges

Ilustração: Catel Muller

Texto: José-Louis Bocquet

Lettering original: Jean-Luc Ruault

Tradução: André Telles

Editora: Record

Leia um trecho (proibido para menores! rs) | Skoob

Em Montauban de 1748, nasce Marie Gouze, criada sob as convenções da França setecentista. Aos 18 anos, mãe e viúva, se vê livre para expressar suas ideias e adota o pseudônimo Olympe de Gouges. Anos depois se muda para Paris, onde participará ativamente da vida política e cultural. Fiel leitora de Rousseau, inspiradas pelas ideias libertárias da França pré-revolucionária, Olympe se dedica intensamente à escrita – atividade que levaria até os últimos dias de sua vida e que a causaria muitos problemas. Conquistou inimizades e escandalizou os mais conservadores, porém jamais deixou de defender seus ideais feministas e libertários. Em 1791, redigiu a Declaração dos direitos da mulher e da cidadã, reivindicando a igualdade entre os sexos e o direito ao voto. Com muita beleza, esta graphic novel conta a trajetória de uma mulher forte e corajosa que carimbou seu nome na história da Revolução Francesa. Dos consagrados quadrinistas José-Louis Bocquet e Catel Muller, a HQ retrata através de belos traços os incríveis cenários e personalidades da França do século XVIII.

Este livro une duas coisas que realmente não são o meu forte: ele é uma biografia em forma de HQ. Mas gosto de sair da minha zona de conforto às vezes e, apesar de nunca ter ouvido falar no livro ou na pessoa retratada nele antes de vê-lo entre as novidades da Galera (e talvez justamente por isso), decidi ler. Achei que uma mulher com a história de vida citada na sinopse merecia ser conhecida.

Marie Gouze nasceu em 1748. Apesar de sua mãe estar casada quando engravidou, ela era fruto de seu relacionamento com outro homem - ou seja, uma bastarda. Apesar disso, durante seus primeiros anos de vida conviveu de perto com o pai biológico, mas em determinado momento isso foi tirado dela. Desde bem pequena já questionava coisas que considerava erradas, como a existência dos escravos. Na verdade, ela nem sabia que escravos existiam, até que, ao mostrar uma mulher negra a quem lhe acompanhava, precisou participar do seguinte diálogo:

- Bem ali, uma dama... Ela é toda preta! Quem é?

- Não é um ser humano. 

- É um animal?

- Tampouco é um animal.

- Não é nem uma criatura de Deus, como o leitão? 

- Não é NADA. Então, não se preocupe com isso.

Esse é só o primeiro trecho que nos faz sentir um pouquinho como a Marie; a garota passa por muita coisa. Aos dezesseis anos é obrigada a se casar (com um marido nada gentil, a propósito), e a morte dele é para ela uma libertação. Decide não se casar novamente, e passa a fazer tudo o que acredita que precisa ser feito para que pessoas marginalizadas, como os escravos e as mulheres, passem a ser vistas como iguais, e tenham os direitos que merecem ter. Adota o pseudônimo de Olympe (parte do nome de sua mãe) e muda um pouco o sobrenome - de Gouze para Gouges.

Admiro muito pessoas que dedicam suas vidas à luta por um ideal. Pessoas que estão dispostas a expressar ideias que podem fazer diferença no mundo, custe o que custar. Então amei demais conhecer um pouco sobre a vida de de Olympe de Gouges. A sinopse promete uma mulher forte e corajosa, e com certeza encontramos isso. Existem passagens violentas e de conteúdo sexual, então não indico a leitura para menores de 18 anos, ok?

Depois da história contada em HQ, encontramos uma linha do tempo que mostra os principais acontecimentos da vida da personagem principal, além dos principais acontecimentos da época. Até eu, que não costumo me interessar por história, estava sedenta por mais informações e devorei essa parte... rs... a HQ contou a história de um jeito que não fez a leitura ficar cansativa em nenhum momento, mas é óbvio que houveram várias passagens de tempo, ou o livro não caberia em suas quase 500 páginas. 

Essa linha do tempo detalha melhor alguns fatos que foram citados muito rapidamente, ou complementa algumas informações. Por exemplo, durante a HQ, sabemos que ela escreve, mas são mostrados apenas panfletos e peças de teatro que Olympe lutou muito para que fossem encenadas. Na linha do tempo, somos informados de que ela chegou a publicar três volumes com suas obras completas.

No final, foram colocadas pequenas biografias de pessoas que participaram direta ou indiretamente da história da Olympe (se não contei errado, são 39 biografias). Podemos conhecer desde o rei até o inventor da guilhotina. Este, aliás, segundo o texto, se arrependeu de ter seu nome associado ao invento até o fim de seus dias, mesmo que a guilhotina tenha sido criada para tornar as execuções "mais humanas", já que eram usados enforcamentos, esquartejamentos, queima na fogueira, entre outras técnicas - como aquela horrenda de amarrar braços e pernas a cavalos e fazer cada um deles correr para um lado.

Com certeza foi uma leitura que me fez refletir bastante e que me ensinou muito; não conhecia nada sobre a Revolução Francesa, mas agora consegui entender pelo menos um pouquinho sobre o período. =)