[Resenha - Seguinte] O livro de memórias

Título: O livro de memórias
Autora: Lara Avery
Tradução: Flávia Souto Maior
Editora: Seguinte
Número de páginas: 352
Skoob

Sammie sempre teve um plano: se formar no ensino médio como a melhor aluna da classe e sair da cidade pequena onde mora o mais rápido possível. E nada vai ficar em seu caminho — nem mesmo uma rara doença genética que aos poucos vai apagar sua memória e acabar com sua saúde física. Ela só precisa de um novo plano. É assim que Sammie começa a escrever o livro de memórias: anotações para ela mesma poder ler no futuro e jamais esquecer. Ali, a garota registra cada detalhe de seu primeiro encontro perfeito com Stuart, um jovem escritor por quem sempre foi apaixonada, e admite o quanto sente falta de Cooper, seu melhor amigo de infância de quem acabou se afastando. Porém, mesmo com esse registro diário, manter suas lembranças e conquistar seus sonhos pode ser mais difícil do que ela esperava.

Sammie McCoy é uma garota que gosta de sua vida muito bem planejada. Sempre traçou metas e levou a sério seus objetivos e não seria, agora, aos 18 anos, que deixaria de se concentrar neles. Está para se formar no ensino médio, já foi aceita na Universidade de Nova York e depois pretende estudar direito em Harvard. Mas parece que a vida não concorda com seu planejamento.

Sammie descobre que é portadora de uma doença genética, a Niemann-Pick tipo C (NP-C). O que isso quer dizer? Bem, a doença não costuma se manifestar em alguém com a idade dela. Normalmente aparece em crianças que costumam viver no máximo até os vinte anos, sendo que uma parte delas não passa dos dez. É uma espécie de demência, Sammie vai se esquecer de algumas coisas no início, depois de muitas. Ninguém sabe exatamente como a evolução da enfermidade será, porém uma coisa é certa: ela é fatal.

Só que nossa protagonista não dá o braço a torcer. Está disposta a lutar contra a NP-C com todas as suas armas e conquistar tudo o que lhe for possível. Nem cogita a ideia de abrir mão de seus planos e, para realizá-los, decide que precisa ajudar a Sam do futuro a nunca se esquecer de quem é. Para isso, começa a escrever um livro de memórias, não omitindo nada de sua rotina e ainda compartilhando algumas lembranças. Este livro é isso, o livro de memórias de Sammie.

O otimismo gera responsabilidade. Não estou me iludindo: sei que estou doente. Mas não vou me preparar para o fracasso.

Acho que vocês já devem ter notado que trata-se de uma história intensa. Logo no início já me senti dentro do enredo, ler o que a garota escrevia me deixou bem orgulhosa dela o tempo todo. Ela não se lamenta, não se entrega. Busca sempre dar o máximo de si e seguir em frente da melhor maneira possível.

Talvez a gente dependa demais de outras pessoas para definir o que é sucesso. (...) Talvez a gente compartilhe demais as coisas. Talvez seja por isso que coisas boas perdem um pouco a graça, porque sempre revelamos tudo.

Doeu muito em mim ler a narrativa de Sammie à medida que o enredo se desenrolava. Claro que começam a surgir sintomas, e não é fácil para ninguém lidar com eles. Mas a família da protagonista (os pais e seus três irmãos) mostra o quanto o amor entre eles é forte; até as crianças mais novas, a seu modo, conseguem compreender o que Sammie está passando. 

Você não precisa ser nada além de você mesma.

Também temos outros personagens que são bem presentes na narrativa: Cooper, o amigo de infância da garota, de quem acabou se afastando sem saber exatamente porque, e Stuart, um ex-aluno de seu colégio que ela sempre admirou e por quem nutriu por bastante tempo uma paixão platônica. E sim, temos uma espécie de triângulo amoroso, mas bem de leve. Felizmente não chegou a me incomodar. 

Amo a capa do livro, que representa muito bem a protagonista, tanto fisicamente quanto transmitindo a sensação do esquecimento. As folhas são amarelas e a fonte tem um tamanho ótimo. Nem sempre as palavras foram escritas corretamente, nem a pontuação feita direito, mas não se trata de um problema de revisão, representa o estado da mente da protagonista. Isso faz doer ainda mais o coração, ver uma garota que sempre prezou tanto pelo conhecimento adquirido não conseguir muitas vezes escrever textos simples.

Foi um leitura que eu teria feito bem rapidamente se tivesse me permitido chegar logo ao fim. Mas quando faltavam umas cem páginas comecei a economizá-las, até chegar ao ponto de pegar outro livro e interromper a leitura desse, tudo por causa do medo de encarar o final da história. O livro me fez sorrir em vários momentos e também me emocionou bastante, chegando a me fazer chorar algumas vezes. Com certeza recomendo.

Quanto mais você ganha, quanto mais pessoas precisa derrotar ou deixar para trás, menor o seu mundo fica.