[Resenha - Planeta] Tentativas de fazer algo da vida

Título: Tentativas de fazer algo da vida

Autor: Hendrik Groen

Tradução: Mariângela Guimarães

Editora: Planeta

(Tusquets Editores)

Número de páginas: 368

Skoob

Hendrik Groen pode ser velho, mas nem de longe está morto – e não planeja ser enterrado tão cedo. Seus passeios estão ficando mais curtos porque as pernas já não dão conta, as visitas ao médico se tornaram mais frequentes do que gostaria. É nesse momento da vida que se pergunta se não há nada mais a fazer além de tomar chá fraco e cuidar de flores. Quando o novo ano começa, ele toma uma decisão: escreverá todos os dias um diário, contando os altos e baixos de sua rotina num asilo em Amsterdã. O resultado é um olhar terno e hilário sobre a terceira idade, mas é também um devastador retrato de uma parcela da população esquecida pela família e pela sociedade.

Hendrik Groen é um pseudônimo. É também o nome do protagonista deste livro. Acompanhamos, através de seu diário, tudo o que viveu durante o ano de 2013. Livros com esse formato sempre me envolvem muito, principalmente quando a personagem principal é cativante como Hendrik. Ele é um senhor de 83 anos que já avisa logo de cara que não gosta de velhos. Durante sua narrativa, descobrimos que não é bem verdade… ele só não gosta de certo tipo de velho, como normalmente nós também não gostamos de certo tipo de pessoa, não importando a idade.

Eu, Hendrikus Gerardus Groen, sou sempre correto, atencioso, simpático, educado e prestativo. Não que eu realmente seja tudo isso, mas não me atrevo a ser diferente. Quase nunca digo o que quero dizer. Sempre escolho o caminho mais seguro. Minha especialidade: agradar gregos e troianos. (...) Vou acabar numa espiral de depressão, pensei. Foi aí que tomei a decisão de também dar voz ao verdadeiro Hendrik Groen: durante um ano inteiro, darei minha opinião, sem censura, sobre a vida neste lar de idosos no norte de Amsterdã.

Então, como o protagonista já avisa no quote acima, ele mora em um lar de idosos em Amsterdã. Nunca recebe visitas, e só bem para a frente no diário descobrimos porque. Não tem muita paciência com resmungos e lamentações, e por isso leva uma vida bem solitária, exceto por alguns poucos amigos que conhece já há muitos anos: Evert, que mora em um lar ligado à casa de repouso, e portanto usa as áreas comuns e participa das atividades, e Anja, sua espiã no escritório da diretoria. Hendrik convive o necessário com os outros moradores para não parecer antipático, mas não faz isso com prazer.

Bonito nome, “sala de estar”, mas vende gato por lebre. “Salão RRR” seria melhor. Os três erres significando: resmungar, reclamar e ridicularizar. Tarefas diárias, para alguns.

Hendrik nos fala sobre a vida na casa de repouso e com isso critica a assistência social a idosos em seu país. E ainda nos diz que tende a piorar consideravelmente, sendo acessível a bem menos pessoas, já que os planos são de reduzir de forma drástica o número de instituições existentes.

Ele também comenta sobre a política em geral, tanto na Holanda quanto em outras partes do mundo. Durante o ano, Hendrik passa por vários estados de humor, o que é inevitável devido a tudo que tem que enfrentar. Descobre que não precisa passar tanto tempo sozinho ao dar chance para pessoas com interesses comuns fazerem parte de sua vida, mas tornando-se amigo de mais gente também tem mais motivos para se preocupar, já que problemas de saúde não são nada incomuns.

A diagramação é simples mas bem feita, as folhas são amareladas e não encontrei erros durante a leitura. A fonte tem um tamanho ótimo e contribuiu para que a leitura fluísse ainda melhor. Gosto muito da capa, o rosto colocado nela ficou bem expressivo e até acho que pode se referir a certo momento da narrativa.

Embora eu não concorde com todas as opiniões do protagonista, me identifiquei com a maior parte delas. Acabei chegando ao final querendo mais e felizmente minha vontade poderá ser satisfeita, já que uma continuação do diário foi publicada no exterior em 2016.