[Resenha - Bertrand Brasil] O evangelho de Loki

Título: O evangelho de Loki
Autora: Joanne M. Harris
Tradução: Ananda Alves
Editora: Bertrand Brasil

(Grupo Editorial Record)
Número de páginas: 336
Skoob

A épica história de Loki, o Deus trapaceiro. Com sua notória reputação para trapaças e enganações, Loki é um deus nórdico sem igual. Nascido demônio, é visto com profundas suspeitas por seus companheiros deuses, que jamais o aceitarão como um deles; por conta disso, Loki promete se vingar. Mas enquanto o deus-demônio planeja a derrocada de Asgard e a humilhação dos seus opressores, poderes maiores conspiram contra os deuses e uma batalha é arquitetada para mudar o destino dos Mundos. Do recrutamento por Odin do reino do Caos, através dos anos como solucionador de problemas de Asgard, até a perda do seu posto no desenrolar para o Ragnarök, este é o Evangelho de Loki, a sua longa e curiosa versão da história — e se alguém disser o contrário, não acredite!

Este livro narra os acontecimentos da mitologia nórdica de uma forma diferente: do ponto de vista de Loki, considerado o trapaceiro. O protagonista conversa conosco durante toda a história, e a narrativa em primeira pessoa foi uma escolha mais que acertada, porque ele é extremamente cativante. Não tem como não torcer para o Loki, por mais que ele faça coisas com as quais não concordemos.

Ele conta que, no início, vivia no Caos. Era um demônio, filho de um relâmpago e de uma pilha de galhos secos. Sua forma original era a do Incêndio. Até que foi convocado por Odin, que lhe prometeu que seria considerado um deus e seu irmão (e sim, na história original da mitologia Loki é considerado irmão de Odin, e não de Thor, como retratado nos filmes), bastando apenas aceitar ser aquele que eventualmente desafiaria a Ordem em Asgard. Mas não foi bem assim que as coisas aconteceram.

Um Incêndio é difícil de controlar: volátil, imprevisível. Não estou criando desculpas nem nada, mas faz parte da minha natureza ser problemático.

Loki, antes de começar a trapacear, teve que encarar uma trapaça de Odin que garantiu que ele não tivesse como recusar sua proposta. A partir daí ele nos mostra como nunca teve o que foi prometido, como nunca foi considerado um dos deuses. Acompanhamos tudo o que ele passa, suas fases deprimentes e glamourosas, até uma espécie de fim do mundo - o Ragnarök.

Adorei essa leitura! O livro tem menos diálogos que o habitual, e isso normalmente me incomodaria, mas é tão gostoso ter o Loki falando com a gente que demorei a reparar nesse detalhe. Eu sempre queria mais, a narrativa é divertida e me conquistou facilmente.

O tamanho da fonte e o espaçamento permitem uma leitura confortável, as folhas são amarelas e o livro é dividido de uma maneira diferente: são quatro partes, cada uma delas divididas também em lições em que Loki nos expõe o que aprendeu desde que foi obrigado a assumir o Aspecto humano e habitar o corpo de um jovem com cabelos vermelhos - claro que ele não perdeu a capacidade de assumir seu Aspecto flamenjante quando necessário. Aliás, Loki era um metamorfo, e podia utilizar também outros Aspectos - outras formas.

Não esperem um final feliz, as coisas não terminam bem para basicamente ninguém. Também não existe exatamente um fim, não é como se todas as personagens não estivessem mais vivas após o Ragnarök, que é a destruição do mundo como existia para o renascimento de um mundo diferente no futuro - apenas precisam passar por mudanças, nem sempre agradáveis. Mas até nosso protagonista, que não tem um destino nada bom, mostra que não perdeu a esperança de ter uma existência melhor. Recomendo a leitura para quem curte mitologia e também para quem não sabe nada sobre o assunto e busca apenas uma leitura diferente.