[Resenha - Arqueiro] A longa e sombria hora do chá da alma

Título: A longa e sombria hora do chá da alma
Autor: Douglas Adams
Tradução: Fabiano Morais
Livro #2 da série Dirk Gently
Editora: Arqueiro
Número de páginas: 224
Skoob

Kate Schechter devia ter prestado atenção aos avisos que o universo tentava lhe dar. No aeroporto de Heathrow, prestes a embarcar para a Noruega, a americana pensa em todos os sinais que lhe diziam para não fazer aquela viagem. Ainda assim, ela não está nem um pouco preparada para a explosão do balcão de check-in, que destrói parte do terminal. Enquanto isso, no norte de Londres, o detetive Dirk Gently está no fundo do poço: sem dinheiro, vive de bicos como quiromante numa tendinha. Refletindo sobre seu fracasso, ele lembra de repente que, na verdade, tem um cliente e está absurdamente atrasado para o encontro aquela manhã. Porém, o investigador chega tarde demais. Sentindo-se culpado pela sina do homem, ele resolve mais uma vez fazer uso da interconexão de todas as coisas e vê uma ligação do seu caso com os estranhos eventos no aeroporto. Abrindo caminho em meio aos elementos mais absurdos, Dirk se depara com uma máquina de refrigerante que aparece nos lugares mais improváveis, uma águia hostil que insiste em atacá-lo, um hospital sinistro para casos exóticos, horóscopos insultuosos e uma calculadora de I Ching. Neste delicioso livro que dá continuação à série de Dirk Gently, o leitor se surpreenderá ao observar como todas as peças do quebra-cabeça se encaixam para formar uma trama genial e hilária.

Kate Schechter é uma nova-iorquina que atualmente vive em Londres, que considera uma excelente cidade para morar, exceto pela questão de não haver entrega de pizzas. Ela perdeu o marido em um acidente em Nova Iorque, e desde então se envolve apenas com homens completamente egocêntricos – ou seja, homens que não fariam tanta falta assim se desaparecessem. Decide viajar para a Noruega para tentar se encontrar com o cara que está em sua vida no momento, mas o destino não parece querer deixar isso acontecer. Kate precisa enfrentar vários imprevistos e, quando finalmente consegue encontrar o balcão de check-in, ele simplesmente explode. 

Dirk acorda e começa a torcer para conseguir um cliente, até que se lembra de que tinha um... só que deveria estar na casa dele às 6:30 da manhã daquele dia. Mas será que ele se importaria com várias horas de atraso? Dirk nunca saberá, já que quando chega ao local a cabeça de seu cliente não faz mais parte do corpo e o máximo que ele consegue é resgatar parte do pagamento combinado. 

Como se isso não fosse trauma suficiente, descobre que a funcionária da empresa aérea que estava trabalhando no momento da explosão no balcão de check-in, e que é a única desaparecida, é sua ex-secretária. Dirk se vê na obrigação de entender como aqueles estranhos acontecimentos poderiam estar interligados, uma vez que como detetive holístico acredita na interconexão fundamental de todas as coisas. E, quando bate na traseira do carro de Kate, fica ainda mais determinado a desvendar aquele mistério.

No primeiro livro, achei que Dirk não parecia ser o protagonista. Nesse, a participação dele foi muito mais marcante, embora a Kate também tenha ganhado um bom espaço no enredo. Foi só nesse volume que o detetive me ganhou, no primeiro achei que ele fosse um explorador de velinhas sem coração. Mas o fato dele ter ficado ao menos intrigado para descobrir o destino de sua ex-secretária me fez nutrir certa simpatia por ele. E passei a admirar mais sua inteligência e sua capacidade de dedução e de interligação dos acontecimentos.

Esse foi o único livro do Douglas Adams que não me deixou completamente satisfeita, houve duas ou três coisas que não entendi exatamente o motivo de estarem no enredo, ou que não consegui interligar com os outros elementos. Mas tendo a achar que eu é que deixei passar alguma coisa, já que os seis livros dele que li antes juntaram todas as peças com maestria. Não acho que a série ter ficado incompleta tenha algo a ver com isso, já que cada livro narra um caso diferente em que o detetive Dirk Gently se envolve. Acredito que o fato de ter lido bem devagar devido à minha falta de tempo possa ter prejudicado meu entendimento, posso ter perdido alguns pequenos detalhes importantes – porque acreditem, qualquer detalhe em um livro do autor é essencial. 

Mesmo assim, foi uma leitura de que gostei muito. Tudo que consegui ver se interligando foi muito legal, e o autor acrescentou um elemento que não havia trabalhado em seus outros livros: a mitologia. Como adoro o tema, isso só tornou a leitura ainda mais interessante para mim. É uma pena que a série não tenha mais volumes, e que Douglas Adams tenha nos deixado tão cedo – é um autor que com certeza ainda tinha muito a oferecer aos seus leitores, e de quem eu com certeza leria muitas outras obras.