[Resenha - Arqueiro] Agência de investigações holísticas Dirk Gently

Título: Agência de investigações holísticas Dirk Gently
Autor: Douglas Adams
Tradução: Fabiano Morais
Livro #1 da série Dirk Gently
Editora: Arqueiro
Número de páginas: 240
Skoob

A série O Mochileiro das Galáxias consagrou Douglas Adams por sua fina ironia e sua capacidade de elaborar histórias hilárias e inusitadas. Porém, essa não foi sua única obra-prima. Também na década de 1980, ele criou o personagem Dirk Gently, cujos elementos principais surgiram quando escrevia episódios para Doctor Who, outro ícone britânico da ficção científica. Adams morreu em 2001, deixando dois volumes sobre as aventuras do detetive carismático e arrogante. Agora, finalmente, o primeiro livro é publicado no Brasil. Richard MacDuff é um engenheiro de computação perfeitamente normal que sempre se comportou muito bem, obrigado, até o dia em que deixa uma mensagem equivocada na secretária eletrônica de sua namorada, Susan Way. Arrependido, toma a decisão mais natural possível: escalar o prédio dela e invadir seu apartamento para roubar a fita com a gravação. Na vizinhança, Dirk Gently bisbilhota os arredores com seu binóculo quando presencia o ato tresloucado do antigo colega de faculdade e decide entrar em contato para lhe oferecer seus serviços investigativos. Depois de uma série de acontecimentos bizarros, o detetive percebe uma interconexão obscura entre a atitude estapafúrdia do amigo e o assassinato de Gordon Way – irmão de Susan e chefe de Richard, que passa a ser suspeito do crime. De uma hora para outra, os dois veem-se envolvidos num caso incrivelmente estranho, com elementos díspares e desconexos que, no final, conseguem se encaixar de forma perfeita e construir uma trama típica de Douglas Adams.

Richard MacDuff trabalha em uma empresa de computação e foi convidado por seu ex-tutor para um jantar na faculdade em que estudou. Depois de se encontrar com várias pessoas que nem parecem ser de verdade, descobre que simplesmente esqueceu de buscar sua namorada para acompanhá-lo. Em um surto, deixa uma mensagem para ela prometendo mil coisas que não pode cumprir. O que faz com que tenha que dar uma de bandido (ou de Homem-Aranha) e escalar o prédio dela para roubar a fita da secretária eletrônica.

Seu ex-colega, Dirk, assiste por acaso à cena. Acontece que ele se tornou o dono de uma agência de investigações, especializada em divórcios complicados e na localização de gatinhos perdidos, mas acredita que Richard possa precisar de seus serviços ou não estaria escalando uma parede sem nenhum item de segurança. Embora eles não consigam se encontrar na primeira vez em que combinam, uma lista telefônica acaba tornando o reencontro possível. Só que as condições em que ele acontece são preocupantes, e o encontro acaba com Dirk sendo contratado para salvar Richard de uma enrascada.

O termo “holístico” se refere à minha convicção de que devemos nos concentrar na interconexão fundamental de todas as coisas. Não estou interessado em trivialidades, como impressões digitais, fiapos de tecido reveladores e pegadas inúteis e, sim, no fato de que a solução para qualquer problema pode ser encontrada na maneira como se configura e se entrelaça o todo.

Embora o Dirk e sua agência sejam o que dá título à obra, achei que Richard teve mais importância na história, ainda que o detetive e toda sua capacidade de raciocínio lógico sejam os responsáveis pela solução do mistério que nem vou dizer qual é. Só adianto que temos a participação de uma égua, de um monge eletrônico (criado para acreditar nas coisas pelos humanos, livrando-os da difícil tarefa de acreditar em tudo que o mundo espera que eles acreditem), de um fantasma, e de mais alguns seres e mais algumas coisas que não posso listar porque spoilers não são legais... rs...

A história se passa nos anos 80 – por isso temos a fita cassete da secretária eletrônica – e adorei sentir o clima da época no enredo. Mais uma vez, Douglas Adams juntou vários acontecimentos que aparentemente não fazem sentido algum e no final conseguiu fazer tudo se encaixar e criou um desfecho genial. Confesso que no início cheguei a ficar um pouco perdida com tantos personagens que pareciam não ter ligação uns com os outros, mas mais uma vez o autor me surpreendeu. E nunca pensem que houve um esquecimento ou um erro de tradução: quando falta alguma informação, é porque foi emitida propositalmente.

Se você quiser mesmo entender alguma coisa, a melhor maneira de fazer isso é tentar explicá-la para alguém. Isso o obriga a destrinchá-la em sua cabeça. E, quanto mais lerdo e tapado for seu aluno, mais você terá que fragmentá-la em ideias cada vez mais simples. (…) O professor geralmente aprende mais do que o aluno. Não é verdade?

A história flui muito bem, as folhas são amarelas e a letra de um tamanho confortável. A diagramação é simples, com os capítulos iniciando na mesma página em que o anterior termina. O autor deixou essa série incompleta; quando morreu, em 2001, havia escrito apenas dois volumes. Logo trarei a resenha do segundo livro para vocês.