[Resenha - Novo Conceito] A Menina da Neve

Título: A Menina da Neve

Autora: Eowyn Ivey

Tradução: Paulo Polzonoff Junior

Editora: Novo Conceito

Número de páginas: 352

Skoob

Alasca, 1920: Um lugar especialmente difícil para os recém-chegados Jack e Mabel. Sem filhos, eles estão se afastando um do outro cada vez mais ele, no duro trabalho da fazenda, ela, se perdendo na solidão e no desespero. Em um dos raros momentos juntos durante a primeira nevasca da temporada, eles fazem uma criança de neve. Na manhã seguinte, ela simplesmente desaparece. Jack e Mabel avistam uma menina loira correndo por entre as árvores, mas a criança não é comum. Ela caça com uma raposa-vermelha ao lado e, de alguma forma, consegue sobreviver sozinha no rigoroso inverno do Alasca. Enquanto o casal se esforça para entendê-la, uma criança que poderia ter saído das páginas de um conto de fadas, eles começam a amá-la como se ela fosse filha deles. No entanto, nesse lugar bonito e sombrio, as coisas raramente são como aparentam ser, e o que aprendem sobre essa misteriosa menina vai transformar a vida de todos eles.

Jack e Mabel são casados e têm quase 50 anos. Não têm filhos, mas não por sua vontade, chegaram a perder um recém-nascido. A vida perto da família, com tantas crianças ao redor, acabou tornando-se insuportável para eles, e decidiram se mudar para o Alasca, um lugar que o governo tentava povoar e para isso oferecia incentivos. Só que a vida naquele local se mostrou bem complicada. As terras que eles precisavam cultivar estavam longe de ter as condições ideais para isso, e Jack não tinha mais a juventude necessária para lidar com ela, e nem ninguém para ajudá-lo.

Os dois acabaram se distanciando devido às dificuldades. Até que, na primeira nevasca, começam repentinamente uma brincadeira na neve. Decidem fazer um boneco, e depois o transformam em uma menininha, colocando inclusive um cachecol e luvas de Mabel para complementar sua obra. Só que, pouco tempo depois, percebem que o boneco derreteu e que as peças de roupa sumiram. Não demora para que comecem a ver uma garotinha perto de sua casa usando as coisas desaparecidas... mas quem é ela e porque corre desprotegida pela neve? 

A Menina da Neve foi uma leitura bem diferente do que eu esperava. Achei que o livro fosse ser sobre o casal e a menininha, e que o mistério sobre o que ela era e de onde vinha seria o foco da história. Me enganei. Para falar a verdade, as coisas não são esclarecidas com todas as letras em nenhum momento, embora eu tenha chegado às minhas conclusões. O enredo engloba um período de vários anos. 

Achei a narrativa lenta, mas isso é algo que o livro pede. Combinou perfeitamente com o tipo de vida que os protagonistas levam, ditada pelas estações do ano. Em um lugar com um inverno tão rigoroso, só lhes resta torcer para que o resultado do trabalho das outras estações consiga mantê-los vivos até a próxima primavera.

Os personagens, aliás, foram muito bem trabalhados. Não só os principais como também os secundários, uma família bem inusitada e divertida que mora do outro lado do rio, formada por pessoas simples e generosas que acabam tornando os dias do casal bem mais interessantes.

As páginas são amarelas, a letra tem um tamanho confortável e a diagramação está muito linda. Amei a capa, além de ser maravilhosa tem tudo a ver com a história. Teve uma coisa que me incomodou no início, mas depois me acostumei. Sempre que a menina aparece, não há travessões nos diálogos, as falas de cada um são colocadas apenas em linhas diferentes.

É um livro que faz refletir bastante, principalmente a respeito de até quando vai a liberdade individual de cada um. Essa história exemplifica perfeitamente para mim o fato de que o ser humano confunde muito amor com posse. Mas alguns personagens amadurecem bastante e aprendem a aceitar o outro como ele é.  Só que mesmo assim as convenções sociais acabam mudando destinos e trazendo desfechos nem sempre felizes. Foi uma leitura que valeu a pena, apesar das ressalvas.