segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

[Resenha - Planeta] Diário de um policial

Postado por Ju às 22:30
Título: Diário de um policial
Autor: Diógenes Lucca
Editora: Planeta
Número de páginas: 208

Pouca gente no Brasil conhece a mente e o comportamento de um bandido tão bem quanto o tenente-coronel Diógenes Lucca, hoje na reserva. Em 30 anos na polícia militar, boa parte no comando do Gate, ele participou de mais de 100 negociações para soltura de reféns. Neste livro, Lucca conta os bastidores dessas negociações e revela, em detalhes, casos que marcaram a história policial do país: os sequestros do empresário Abílio Diniz e do apresentador Sílvio Santos, a invasão no Carandirú, o caso Marcola e as rebeliões do PCC, entre outros. Muito mais do que um livro de memórias, "Diário de um policial" é um thriller de verdade, tão recheado de adrenalina que é impossível parar no meio.

Quando comecei a ler esse livro, tinha uma expectativa um pouco diferente do que encontrei. Achei que encontraria 20 casos - um por capítulo -, contados por Diógenes Lucca, que durante vários anos atuou como comandante do GATE - Grupo de Ações Táticas Especiais. Mas, na verdade, em pouco mais de 200 páginas o autor conseguiu resumir grande parte de sua carreira na Polícia Militar, incluindo um curto período em que esteve de licença e durante o qual trabalhou para a iniciativa privada.

Começamos a acompanhar a narrativa de Diógenes nos anos 1980, quando ele fazia parte da ROTA - Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar -, organização em que passou por seu primeiro tiroteio, sua primeira prisão, e teve que encarar que nem toda ação policial tem um final feliz. Mas se tem algo que fica muito claro nesse livro é que, apesar de ser completamente contra a morte de criminosos sem necessidade, Lucca nunca hesitou em escolher a morte de um criminoso se a morte de um refém era iminente. 

O início do livro não me conquistou, mas aí cheguei ao capítulo 5, que fala da criação do GATE - a SWAT brasileira, uma unidade especializada em armas e táticas especiais, incluindo coisas como negociação, uso de explosivos e treinamento de atiradores de elite; e aí a narrativa me ganhou e me prendeu de verdade. O maior foco do livro é a negociação, já que o autor lutou com afinco para que o GATE fosse visto como uma unidade estratégica que deveria ser sempre chamada em situações com reféns, e não evitada às vezes por ter uma imagem negativa junto até mesmo aos outros setores da polícia - o GATE frequentemente era visto como derramador de sangue de forma gratuita.

Achei o máximo acompanhar os bastidores de casos conhecidos e outros nem tanto, alguns deles têm detalhes bem curiosos e até engraçados, o que dá uma quebra na tensão com que nos deparamos em vários momentos durante a leitura. Pude conhecer um pouco sobre as táticas de negociação - como o fato do negociador se preocupar em atender às necessidades dos criminosos, mas nunca aos seus desejos. Diferenciar isso é muito importante, e é o motivo de, por exemplo, fornecer alimento, mas não liberar um carro ou um helicóptero - adorei quando o autor disse que no GATE não trabalha Papai Noel.

No livro vemos também os obstáculos que os negociadores precisam enfrentar. Além da pressão de lidar com vidas, muitas vezes eles têm que vencer entraves dentro da própria corporação - sendo convencendo superiores de fazer o que é preciso, ou tentando controlar todos os policiais presentes para que ninguém resolva tomar uma atitude impensada e coloque tudo a perder. Exatamente por esse último motivo, sempre tentam fazer com que estejam presentes apenas as pessoas essenciais - mas, infelizmente, nem sempre isso está ao alcance do negociador.

O GATE sabe que aquilo que chamamos de bom senso nem sempre é uma ferramenta eficaz para resolver completamente uma crise. Numa passagem irônica de René Descartes, ele afirma que o bom senso é a virtude mais bem distribuída entre todos os seres humanos, pois cada um acha que o possui na quantidade suficiente e, assim, não admite a sua falta.

Essa falta de bom senso me deu uma agonia profunda algumas vezes no decorrer da narrativa, quis esganar algumas pessoas sem noção. Foi uma leitura que gostei muito de fazer, o autor escreve de forma simples e tem o cuidado de explicar terminologias específicas quando as utiliza. Com certeza indico Diário de um policial para quem curte livros de não-ficção.

14 comentários:

  1. Olá, bom dia.
    Eu não curto muito estes livros, mas acho que se fosse com os 20 casos contados um por capítulo, como você pensou que seria, talvez me chamasse a atenção. Daí passaraia a ser um suspense misturado com biografia né, hehe. Ainda bem que o autor busca explicar as terminologias, porque eu ficaria boiando na leitura, rsrs. Que bom que gostou do livro, parabéns pela resenha.

    Beijo, Van - Retrô Books
    http://balaiodelivros.blogspot.com.br/

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  2. Uau!!!! Eu nunca ouvi falar desse livro, mas já fiquei maluca aqui por ele. Adoroooo esses temas e sendo este brasileiro fico ainda mais curiosa! É sempre serial Killer americano que estampa obras como esta. Já quero! Indo agora pró skoob kkkkkk

    >> Vida Complicada <<

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  3. Da pra sentir que é um livro forte, principalmente porque se trata de fatos ocorridos realmente, e de condições que vemos todos os dias na tv pelo olhar de um repórter.
    Esse livro é como se fosse o lado de dentro, é o bastidor da história, descrita por quem vivenciou os acontecimentos e sofreu e lidou com os resultados de perto, é uma ótima opção pra quem gosta de histórias policias e todas as suas tramas.
    https://cacadorasdespoiler.wordpress.com/blog/

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  4. Oi!


    Sinceramente esse é um livro que me atrai, onde dá para sentir na pele tudo que um policial vivencia no seu dia a dia, as questões burocráticas, as emoções a flor da pele, enfim, a sinopse esta chamativa e sua resenha por demais atraente. Cabe ressaltar que mesmo que fosse um caso por capítulo também iria ler.

    Beijos!

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  5. oiii, não sou fã desse gênero, mas confesso que fiquei curiosa em ler coo material de pesquisa para livro policial. Deve ser bem interessante!
    Beijo, Mari

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  6. Oi, Ju!
    Diferente e até interessante a temática do livro; realmente deve ser um cenário intenso e denso de se acompanhar, mas para quem curte deve ser uma leitura muito gostosa mesmo. Pena que não sou tão chegada a não-ficções assim.
    Beijos!

    ♥ Sâmmy ♥
    ♥ SammySacional ♥

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  7. Oi Ju!
    Não conhecia o livro e deve ser mesmo irritante quando um sem noção aparece no meio de uma negociação importante como a que tem reféns. Caso tenha oportunidade vou dar uma lida.
    Bjs, Rose.

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  8. Com certeza é um livro bem diferente do que costumamos ver a blogosfera, raro aparecer resenhas de não ficção, e apesar do livro não ter me atingido a ponto de querer lê-lo, gostei de conhecer um pouco mais sobre Diário de um policial, sem dúvidas é uma leitura com pontos interessantes, principalmente para quem gosta do gênero, uma pena eu não ter ficado curiosa para ler, pois acredito que seja uma leitura muito valida, principalmente por conta das palavras descritas na resenha, mas quem sabe eu mude de opinião e dê uma chance?

    Da Imaginação à Escrita

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  9. Oiii!

    Ju, não sou fã desse estilo de livro, mas não me recuso a ler. Só não faço com tanta frequencia. Acho que esse relato é ótimo para nos fazer comprrender um pouco mais da profissão que é super de risco.
    Acho que a escrita detalhada sem ser cansativa ajuda muito!
    Eu achei muito legal ele colocar o ponto de que é contra matar a não ser que seja caso onde a vitima corra risco. Na verdade eu tenho uma opinião bem forte sobre isso e sempre guardo para mim... Mas enfim, ótima resenha!

    Beijinhos

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  10. Oi!!
    Eu já aceitaria ler só pela capa, assuntos assim chamam a minha atenção.
    Quando leio algo sobre policiais a primeira coisa que penso é na coragem que eles tem, sempre estão em constante risco, principalmente nos dias de hoje que a violência esta cada vez maior.
    A leitura deve ser tensa mesmo, mas acredito que deve ser o máximo poder conhecer mais sobre como funciona o GATE, poder saber detalhes de alguns casos, eu já tô mega empolgada só lendo a resenha imagine se tivesse o livro em mãos.
    Imagina o que passa pela cabeça desses homens enquanto estão fazendo uma negociação, a tensão em não perder o refém deve ser grande e quando isso ocorre deve ser frustrante né.
    Não conhecia esse livro, vou colocar na minha lista de desejados.
    Beijão!
    Lilica - O maravilhoso mundo da leitura

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  11. Oi!
    Achei mega interessante o policial fazer um resumo da sua carreira dentro da polícia. Nós que não conhecemos como funciona o trabalho deles, só vemos esses grandes resgates e ações pela TV não conseguimos ter a noção do quanto esse trabalho é perigoso e tenso, mas pelo jeito deu pra perceber que ele consegue passar essa imagem no livro.
    Não compraria antes da sua resenha, mas agora fiquei super curiosa pra ler

    www.gordinhaassumida.com.br

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  12. Oi Ju, não sou lá grande fã de livros não-ficção, mas este me deixou curiosa. Principalmente por retratar a forma como o Gate trabalha e "negocia", me parece também que ele aborda alguns casos em que gostaríamos de saber melhor como tudo transcorreu e o fato de a leitura ser simples e o autor explicar as terminologias é um ponto positivo a meu ver.

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  13. Pelo jeito esse livro não é pra mim... Não gosto de não-ficção, esse tipo de leitura não me empolga, já tentei e sempre são leituras arrastadas, por isso passo a indicação dessa vez. Mas para quem curte o gênero a obra parece incrível e bem escrita.
    beijos
    www.apenasumvicio.com

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  14. Que interessante! Nunca ouvi falar do livro, mas realmente me agradou saber que existe essa obra sobre uma importante atividade policial. Infelizmente, tudo o que sei sobre ações especiais com reféns não provêm de bons casos... Aquele bandido do ônibus, que raptou a refém e ficou por horas torturando-a. No fim, ela morreu (e o bandido também). E aquele namorado louco que ficou no apartamento com a namorada e a amiga dela por horas. No fim, ela morreu (e ele também). Acho que temos muito a melhorar e já vi notícias internacionais que acham nossas ações táticas uma piada. Mas tenho esperança de que o quadro mude se esses policiais corajosos forem levados mais a sério, com o investimento certo.

    Beijos!
    http://www.myqueenside.blogspot.com

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