[Resenha - Planeta] Made in Macaíba

Título: Made in Macaíba

Autor: Miguel Nicolelis

Editora: Planeta

(Selo Crítica)

Skoob

Ninguém duvida da competência de Miguel Nicolelis. A comunidade científica internacional e as principais revistas do mundo o apontam como um dos maiores ícones da neurociência da atualidade. Mas muitos o questionaram quando ele voltou para o Brasil decidido a ensinar e fazer ciência em uma das áreas mais pobres do Nordeste. Ele próprio dizia estar diante de uma utopia. O livro Made in Macaíba – a história da criação de uma utopia científico-social no ex-império dos tapuias é uma lição de vida e de empreendedorismo de quem continua acreditando no Brasil. Nicolelis não só concebeu o Campus do Cérebro, que mudou o cenário de uma enorme comunidade carente, mas vem incentivando milhares de crianças a estudar e a acreditar que as oportunidades existem para todos. Inspirado no primeiro grande cientista brasileiro, Nicolelis quer abrir caminho para que apareçam outros Santos Dumont país afora. Resgatando a história, ele conta neste livro como isso é possível.

Provavelmente, esse não seria um livro que eu escolheria em uma livraria. Mas vi o autor falando sobre ele, e aí não tive como não ficar curiosa a respeito da história. Tanto que iniciei a leitura no mesmo dia em que ele chegou às minhas mãos. E preciso dizer para vocês: é um livro que vale muito a pena. É aquele tipo de livro que nos devolve a esperança em um mundo melhor, que mostra que o pouco que cada um pode fazer acaba se transformando em muito e mudando a realidade de muita gente.

Nicolelis fala de tanta coisa em pouco mais de 300 páginas que fica até complicado situar vocês. Ele é de São Paulo, mas desencantou-se com a situação do país e acabou se mudando para o exterior há bastante tempo atrás. Até que se convenceu de que a situação política a partir de 2002 o ajudaria a realizar um projeto, uma utopia brasileira. Algo que permitiria melhorar a vida ao menos de uma pequena comunidade.

Decidiu-se pelo local: a periferia de Natal. Ele nos conta toda a história do lugar, desde a chegada dos colonizadores até a forma como o Governo é mantido por algumas famílias até hoje... mostra todas as dificuldades que precisou enfrentar, desde a resistência de colegas que faziam de tudo para desmotivá-lo até a dificuldade de conseguir financiamento e autorização para montar a infraestrutura adequada.

Mas o que, enfim, Nicolelis planejava? "Descentralizar a infraestrutura e a produção científica de ponta por todo o Brasil e aplicar a ciência como agente de transformação social em regiões com baixo desenvolvimento humano". Ele nos mostra como, por exemplo, nos Estados Unidos, uma grande universidade e um grande centro de pesquisas estão sempre disponíveis a uma distância decente para qualquer pessoa do país que queira se tornar um cientista. E não sei vocês, mas eu nunca tinha parado para pensar sobre o poder transformador da ciência. O autor demonstra isso de um jeito que fica bem fácil de entender.

Macaíba foi escolhida para a implantação de um projeto que juntaria saúde e educação. No Instituto Internacional de Neurociências de Natal as mães seriam atendidas desde o pré-natal. Seus filhos teriam vaga garantida em um berçário e, caso desejassem, poderiam estudar em escolas do programa desde pequenos até o término de um doutorado. Claro que é um projeto bem extenso, e ainda hoje está em implantação por etapas. Foi necessário começar com um piloto e ir expandindo aos poucos, mas não tenho dúvida alguma de que tudo o que foi planejado será implementado.

O que mais me encantou nesse livro foi a escrita apaixonada do autor. A gente sente o quanto ele ama o que faz, o quanto é realmente um sonho dele usar a ciência para fazer do mundo um lugar melhor. Espero que o modelo que está sendo implantado em Macaíba prolifere por todo o Brasil; e que permita que crianças de outros lugares, que não lhes dão oportunidades justas de desenvolvimento, tenham acesso ao programa e possam crescer com um nível de autoestima e de confiança em si mesmas tão alto quanto o dos jovens pioneiros.

Made in Macaíba inaugura o Selo Crítica no Brasil. Como a editora divulgou no facebook, "sob o slogan de 'A Cultura necessária', o Selo Crítica foi criado na Espanha, em 1976, e é conhecido nos países de língua hispânica nas áreas de História, Filosofia, Ciências Sociais e divulgação científica. Com mais de dois mil títulos já lançados, é a casa de autores como Ian Kershaw, Max Hastings, Stephen Hawking e Stephen Jay Gould em outros países onde a Editora Planeta atua". Além de ser o primeiro título do selo, este livro também é a primeira publicação da Biblioteca Miguel Nicolelis, uma coleção dedicada ao cientista de que com certeza vou querer conhecer outras obras.