[Resenha - Belas-Letras] Destemida

Título: Destemida

Autora: Jessica Watson

Tradução: Bruno Mattos

Editora: Belas-Letras

Número de páginas: 352

Skoob

Depois de 210 dias no mar e 24.285 milhas náuticas em seu barco, Jessica Watson, uma australiana de 16 anos, retornou triunfante de volta ao porto de Sydney. Ela se tornou a pessoa mais jovem a velejar sozinha, desassistida e sem paradas ao redor do mundo. Contado nas próprias palavras de Jessica, Destemida mostra a infância, inspirações, os anos de planejamento para a viagem e o que aconteceu desde a conquista do “Everest da navegação”. Uma história inspiradora, que prova definitivamente que todos nós temos o poder de viver nossos sonhos – não importa quão grandes eles sejam.

Este livro está na fila há muitos meses, mas não por falta de tentativa de lê-lo antes. Na primeira tentativa o achei muito cansativo e não consegui finalizar a leitura. Mas, depois de ler 5 livros da série Brotherband, que se passa no mar grande parte do tempo, me familiarizei bastante com termos náuticos, o que facilitou - e muito - a leitura de Destemida. Mesmo que a autora tenha se preocupado em colocar um glossário no final para esclarecer algumas coisas para o leitor, acho um pouco cansativo quando a gente precisa consultar um glossário com frequência.

O que vocês já tinham feito aos 16 anos? Eu não tinha feito basicamente nada, a não ser lidar com a rotina básica de adolescente... rs... Mas com a Jessica as coisas foram diferentes. Com 11 anos, ela começou a sonhar com uma aventura: dar a volta ao mundo velejando sozinha e sem paradas. Sim, com 11 anos. Claro que isso não foi do nada, a família dela sempre foi um pouco diferente, tinham hábitos como não ter TV em casa (super me identifiquei com isso já que nunca ligo minha TV). Um dia, decidiram que comprariam um ônibus e viajariam juntos pela Austrália. Enquanto isso, foram morar em um barco, e acabaram ficando lá por cinco anos e meio. 

Então, para quem acha que é loucura uma garota de 16 anos viver uma aventura como a que a Jessica viveu, pense de novo. Ela correu atrás de seu sonho por muito tempo, e nem o dinheiro foi empecilho para realizá-lo - acabou conseguindo diversos patrocinadores. Preparou-se da melhor forma possível, fez vários cursos, adquiriu bastante experiência em mar aberto em várias embarcações. Conversou com várias pessoas que já tinham feito o que ela queria fazer. O sonho dela fez com que muita gente se mobilizasse para que ele pudesse acontecer.  

No livro, ela nos conta inicialmente a história de sua família, depois fala sobre a preparação para a viagem, até chegar à viagem propriamente dita. Nessa parte, acompanhamos o que ela escreveu enquanto estava no mar - e gostaria de dizer que ela manteve um blog durante todo o tempo em que navegou, mesmo sendo disléxica e tendo muita dificuldade com a ortografia (as postagens sempre passavam por um corretor antes de irem ao ar). Aliás, por muito tempo a Jessica estudou em casa, e sua mãe sempre disse a ela que podia se superar, que não devia deixar uma dificuldade impedi-la de fazer o que quisesse. A família dela é o máximo, o que a gente já percebe de cara, já que a apoiaram mesmo recebendo milhões de críticas. E não, eles não tiveram nada a ver com isso, a ideia foi toda dela e ela teve que convencer o mundo de que poderia fazer aquilo.

Voltando à estrutura do livro... Como já disse, acompanhamos o que ela escreveu enquanto estava no mar, dividido pelos dias em que os textos foram escritos, e há complementos da Jessica que foram colocados depois que a viagem terminou. Essas coisas que foram escritas depois nos mostram coisas que ela passou e que não quis revelar na época e também reflexões dela sobre o que aconteceu. Foram utilizadas fontes diferentes para textos antigos e novos. Depois da parte da viagem propriamente dita, também acompanhamos um pouco do que aconteceu com a garota após seu retorno à Austrália. A Jessica escreveu tudo de uma forma bem humorada e aberta, o que nos faz sentir uma real proximidade com ela.

A diagramação está ótima, a leitura foi bem confortável, e encontrei apenas um erro de revisão. Mais ou menos no meio do livro, temos 16 páginas coloridas que mostram vários momentos da vida da autora. No final, além do glossário, que já citei, temos a planta do barco, uma foto em que são sinalizados os principais instrumentos utilizados nele e listas de tudo o que a Jessica levou na viagem. 

Acabei gostando bastante da leitura. Tudo começou com uma menininha que queria apenas saber se seria capaz de fazer algo, mas terminou com uma garota que provou que todo sonho é possível desde que a gente se empenhe para que ele se torne real. É uma história realmente inspiradora a que a Jessica viveu.

Acredito muito em ver o mundo através de "óculos de alegria". Uma coisa que aprendi no mar é que há pouquíssimas situações que não possamos reverter com uma simples mudança de perspectiva, tornando-as mais positivas e menos ameaçadoras. É claro que eu tinha meus momentos de choramingos e lamentos quando ficava triste ou assustada. Mas no fim eu percebia que dependia só de mim mudar o meu humor (não havia mais ninguém lá para fazer isso por mim) e conseguia levar meus pensamentos para outra direção.