[Resenha - Geração Editorial] Vandré: O homem que disse não

Título: Vandré - O homem que disse não

Autor: Jorge Fernando dos Santos

Geração Editorial

Número de páginas: 312 

Skoob | Leia um trecho

Quem foi Geraldo Vandré ? Por que ele se tornou amado pelo público e odiado pelos militares na ditadura? Por que sua canção se tornou um hino – Pra não dizer que não falei das flores – Caminhando – jamais esquecida durante décadas? O que aconteceu com ele no exílio e depois que retornou ao Brasil? Gênio? Louco, por causa das torturas? Nesta biografia emocionante, crucial e não autorizada, Jorge Fernando dos Santos conta a história da vida e da obra deste artista que se tornou ícone da canção brasileira no auge dos “anos de chumbo”, mas acabou se afastando dos palcos, para a perplexidade dos fãs.

Quem nunca ouviu a música Pra não dizer que não falei das flores? Nem que tenha sido na época da escola, ao estudar a ditadura, é difícil alguém não ter tido contato com ela. Nunca fui politizada nem nada, mas me apaixonei pela melodia e pela letra. Não fiz questão nenhuma de ficar interpretando cada linha de acordo com o contexto histórico, porque realmente não sou ligada em história. Mas essa música foi o pontapé inicial para eu querer conhecer outras coisas de Geraldo Vandré. Então encontrei outras músicas que também me agradaram bastante, só que nunca parei para pesquisar sobre o homem que estava por trás delas. 

Aí me deparei com esse lançamento da Geração Editorial, e pensei: por que não saber mais sobre essa pessoa que ganhou minha admiração durante a adolescência? Acabou que foi uma leitura bem diferente do que eu esperava. É uma biografia não autorizada, e o autor não teve nenhum contato direto com o biografado. Jorge esclarece que "as informações contidas nesta 'reportagem biográfica' foram garimpadas em outras biografias, depoimentos, documentários, matérias jornalísticas, estudos e ensaios publicados nos últimos 50 anos". E afirma ainda que "a trajetória do cantor e compositor se confunde com episódios históricos de sua época". Essa colocação dá o tom do livro. 

O foco sai de Vandré (ou melhor, do cidadão Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, que em 12 de setembro de 2015 completou 80 anos) em muitos momentos. O livro fornece um panorama político do país, e também de outros países, e conta um pouco da história da música, passando pela chegada da TV e pela profunda transformação que ocorreu com a chegada dela, quando a cultura de massa passou a prevalecer.

Várias das questões levantadas na sinopse não são respondidas. Como Geraldo não dá entrevistas e considera Vandré um personagem que morreu há bastante tempo, não é possível ter certeza de tudo o que se passou com ele. É certo que deixou o país por vontade própria assim que pode quando o AI-5 foi divulgado, porém há várias versões de como isso aconteceu. Quando retornou, aparentemente ficou detido pelos militares por aproximadamente um mês antes que divulgassem sua volta ao país. Diz que não sofreu nenhum tipo de tortura, mas em dado momento uma pessoa no livro diz que ele lhe contou que foi torturado sim, sem entrar em detalhes. 

Os amigos afirmam que continua compondo, mas se recusa a retomar a vida artística. Também não é possível chegar a uma conclusão certa sobre sua personalidade. Alguns afirmam que enlouqueceu devido à tortura. O que eu pensava enquanto lia pode ser resumido numa frase do Geraldo: "Pela forma como me excluo de tantas convenções dos tempos atuais, certamente sou diferente, e quando alguém pensa diferente o melhor é chamá-lo de louco, para que ninguém lhe dê importância". Só ele sabe o que passou e, portanto, só ele pode decidir como quer viver sua vida.

Das 312 páginas do livro, 280 foram numeradas normalmente. As folhas são brancas, mas com um bom tamanho da fonte e espaçamento ideal, o que tornou a leitura confortável. Entre as páginas 96 e 97, foram colocadas 32 páginas coloridas contendo fotos, reprodução de documentos pessoais do compositor, poeta e cantor, reproduções de matérias de jornal, capas de LPs e CDs... enfim, várias coisas que se relacionam com as informações que Jorge Fernando conseguiu compilar.

Há uma lista de composições musicais, uma discografia, lista de entrevistados, lista das fontes de consulta (bibliográficas, cinematográficas, jornalísticas, radiofônicas, incluindo fascículos e sites), índice onomástico (esse tem 16 páginas e indica em que página podem ser encontradas informações sobre várias pessoas citadas na biografia). Indico a leitura principalmente para quem gosta de história, porque a impressão que tive é que é um relato muito mais focado em uma época do que propriamente em um homem.