Título: A Invenção das Asas
Autora: Sue Monk Kidd
Tradução: Flávia Yacubian
Editora: Paralela (selo da Companhia das Letras)
Sinopse: Sarah é uma garota branca que sonha em ser advogada e acabar com a escravidão. Encrenca é uma garota negra que sonha em ser livre. Ambos os sonhos parecem impossíveis no início do século XIX, mas, juntas, aprendem a torná-los possíveis e, para isso, enfrentam todas as regras da sociedade em que vivem. (retirada da contracapa do livro)
A Invenção das Asas é um livro que realmente dá uma sacudida na gente. Tem como tema principal a liberdade - dos escravos, das mulheres, do ser humano de forma geral. A história começa em novembro de 1803 e vai até junho de 1838. A autora alterna a narração entre Sarah e Encrenca.
Amo a capa! Simples, linda e combina bastante com o enredo. Só mudaria um detalhe: apesar de ter achado lindos os pássaros com um brilho prateado e uma textura diferente, eu os faria pretos. Quem ler o livro vai entender a sugestão.
Sarah Grimké faz parte de uma família da aristocracia rural da Carolina do Sul, em que a escravidão é vista como essencial para que o padrão de vida seja mantido. A quinta de dez irmãos (pelo menos no início), desde pequena tem paixão pelos livros e pelo conhecimento que está contido neles. Mesmo sendo oficialmente proibida de frequentar a biblioteca do pai, acaba dando um jeito de estar sempre com algum livro de lá, e ele finge não perceber. Tem o sonho de estudar direito, como seus irmãos, mas vai descobrir que realizar os sonhos não é tão simples como parece... Ser mulher, na época em que ela nasceu, era realmente bem difícil.
"Toda garota vem ao mundo com diferentes graus de ambição", ela disse, "mesmo que seja apenas a esperança de não pertencer de corpo e alma ao marido. (...) A verdade é que toda garota tem que ter sua ambição arrancada de si para seu próprio bem. Sua anormalidade é apenas essa determinação de lutar contra o inevitável. Você resistiu e deu nisso, foi domada como um cavalo."
Hetty "Encrenca" Grimké é escrava desde que foi concebida, mas isso nunca a impediu de sonhar com uma vida diferente. Sua mãe lhe conta a história de sua família, e explica como a escravidão chegou em suas vidas. Encrenca sonha com a liberdade, com um mundo em que não precise ter medo do que pensa, do que faz e do que diz.
Sarah e Encrenca têm algo em comum: não conseguem entender como um ser humano perde o direito a sua humanidade. Como passa a ser considerado um bem, visto como descartável e tratado sem nenhuma compaixão. Aos 11 anos, Sarah ganha Encrenca como presente. Tenta recusar de todas as formas, mas sua mãe não lhe permite fazer isso. Sem saída, faz o que pode para tornar a existência de Encrenca menos infeliz e ao menos um pouco agradável.
Era difícil saber em que pé as coisas estavam. As pessoas dizem que o amor fica manchado por uma diferença tão grande quanto a nossa. Eu não sabia ao certo se os sentimentos da srta. Sarah vinham do amor ou da culpa. Eu não sabia se os meus vinham do amor ou da necessidade de segurança. Ela me amava e tinha pena de mim. E eu amava e usava a srta. Sarah. Nunca foi simples. Naquele dia, nossos corações estavam puros como jamais estariam.
Esse é o ponto de partida da história, mas muita coisa acontece. A autora se baseou em pessoas reais para escrever o livro. Sua principal inspiração foram duas das irmãs Grimké: Sarah e Angelina, mais conhecida como Nina. As únicas de sua família que não aceitavam a realidade com que eram obrigadas a conviver. No século XIX, e no sul dos Estados Unidos, não havia muita alternativa para elas. As mulheres só tinham direito ao nascimento, ao casamento e a ter filhos. Eram consideradas propriedades. Obedeciam aos pais, depois aos maridos. Se fosse o caso, obedeciam aos filhos também.
Meu corpo pode ser escravo, mas não minha mente. Pra você, é o contrário.
Não costumo parar para pensar em como foi difícil a luta pelos direitos das minorias. Houve, sim, muito derramamento de sangue. Muita gente teve que se sacrificar para que eles fossem alcançados. Pessoas dedicaram suas vidas a um objetivo - tudo tem um preço, afinal, e isso é mostrado no livro. A narrativa dói. Alguns fatos históricos foram aproveitados, outras coisas foram fruto da imaginação de Sue. Infelizmente, os castigos a que os escravos eram submetidos não tinham nada de ficção. Se esse livro fosse um filme, eu acabaria tendo que virar o rosto em alguns momentos. Mas não pude escapar da minha imaginação. É mais que revoltante saber que essas coisas realmente aconteceram.
Porém, é muito bom ver a coragem das personagens. Ver o quanto elas se mantêm fiéis a si mesmas e a seus princípios. Ver que estão dispostas a sacrifícios e a correr todos os riscos necessários para alcançar seus objetivos; observar o quanto se doam para que outros alcancem seus objetivos também. Com certeza, a vida delas seria muito mais fácil se tivessem simplesmente deixado para lá. Mas o mais fácil dificilmente é o certo e o melhor.
Escolhi o arrependimento com o qual poderia viver melhor, só isso. Escolhi a vida à qual pertencia.
A cada conquista de uma delas, eu sentia mais orgulho. É uma história de superação, e tenho certeza que todo mundo tem algo a aprender com essas mulheres. Um livro que traz reflexões valiosas. Vale a pena ler.
Resenha postada no skoob.
Resenha postada no skoob.
Gostei bastante da resenha! E achei o título, um bom título, até porque relaciona muito com a história. Adoro esses livros antigos, de 1800 e poucos, com suas fêmeas que lutam por liberdade, adorei ainda mais o fato de ser duas narradoras, deixa o livro menos cansativo!
ResponderExcluircaminhandoemmarte.blogspot.com.br
Oi Ju
ResponderExcluirQuando li pela primeira vez, há alguma semana a sinopse deste livro com uma história sobre escravidão, preconceito e limitações impostas pela sociedade as mulheres e sobretudo sobre superação, fiquei muito interessada, principalmente por ter acabado de assistir 12 Anos de Escravidão e a temática ser, em termos parecida com o filme.
Parabéns pela ótima resenha!
Super bjos
http://www.i-likemovies.com/
A capa realmente é linda... simples e linda. O mais interessante é tudo narrado do ponto de vista de uma criança, sejam bons ou ruins esses fatos. São situações que não dá pra amenizar.
ResponderExcluirLinda resenha, parabéns!
Na verdade, só o início do livro é contado com o ponto de vista de uma criança... Sarah e Encrenca terminam o livro bem mais velhas já que, como eu disse, o livro abrange um período de quase 35 anos.
ExcluirOi Ju... tudo bem?
ResponderExcluirNossa nunca tinha ouvido falar nesse livro e só com a sua resenha me arrepiei inteira. Essas histórias de escravidão e a retirada dos direitos humanos devido ao preconceito é realmente um insulto e me deixa muito revoltada. Sinceramente falando eu jamais queria ter nascido nessa época... nunca fui submissa... imagine só saber que você nasce para casar e ter filhos e esquecer que pode ter muito mais do que isso? Isso é chocante. Sinceramente as mulheres eram muito sacrificadas e humilhadas... Era como se elas fosse mesmo um produto, um objeto. Gostei de sua resenha. Xero!!!
Este é outro que estou muito curiosa para ler. Está aqui na minha estante me encarando e esperando a vez rs... O tema é fantástico, muito me interessa essa luta pelo feminismo e pelos direitos iguais em tempos tão remotos. Saber que tudo isso aconteceu de verdade só fortalece a história do livro e as conquistas das mulheres.
ResponderExcluirbjos
Parece ser um livro muito interessante com muito a nos fazer refletir. Acho muito interessante livros que abordam esse assunto, as desigualdades e obstáculos da época e este me interessou bastante! :)
ResponderExcluirOi Ju!
ResponderExcluirEu já li algumas resenhas bem legais desse livro que me chamaram atenção. A sua foi a que mais me impressionou. Com certeza é um livro que mexe com a gente que dá essa sacudida como vc disse!
Gosto de livros que mistura a ficção e a realidade e os que tem caráter histórico são uns dos meus queridinhos!
Parabéns pela resenha!
Beijos
Oi Ju,
ResponderExcluirtudo bem?
Eu nunca entendi a escravidão e acho que nunca vou entender. E o pior, ela continua viva nos dias de hoje, camuflada, mas viva. Acho muito importante que a história não seja apagada, é necessário que continuem escrevendo livros, fazendo filmes, o homem precisa acordar.
E esse livro parece ser perfeito, pois falou não só da escravidão dos negros, mas também da escravidão das mulheres. Não tem comparação é claro. Mas mesmo assim, as duas são cruéis e inadmissíveis.
Gostei muito da sua resenha e muito desse livro que eu não conhecia.
beijinhos.
cila-leitora voraz
http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/