[Resenha - Seguinte] Os bons segredos

Título: Os bons segredos

Autora: Sarah Dessen

Tradução: Cristian Clemente

Editora: Seguinte

Número de páginas: 408

Skoob

Sydney sempre se sentiu invisível, já que Peyton, seu irmão mais velho, era o foco da atenção da família. Até que ele causa um acidente por dirigir bêbado, deixando um garoto paralítico, e vai para a prisão. Sydney parece ser a única a responsabilizá-lo, ao contrário de seus pais, que enxergam o filho como vítima.  Para fugir do clima insuportável em casa, certa tarde Sydney entra numa pizzaria ao acaso. Lá conhece Layla, filha do dono do restaurante, e a amizade entre as duas é instantânea. Logo Sydney se vê contando à garota segredos que ninguém mais sabe, e encontra entre a família dela um espaço onde todos a enxergam e a aceitam como é. Os bons segredos é o romance mais profundo de Sarah Dessen, uma das maiores referências do gênero jovem adulto nos Estados Unidos. Com uma série de personagens inesquecíveis e descrições gastronômicas de dar água na boca, ela conta a história de uma jovem que tenta encontrar seu lugar no mundo e acaba descobrindo a amizade, o amor e uma nova família no caminho.

Sidney é uma garota que se acostumou com a invisibilidade. Cresceu à sombra do irmão mais velho, Peyton, que se tornava o centro de qualquer lugar em que estivesse presente. Ele era o destemido, o que estava sempre disposto a enfrentar qualquer desafio - mesmo que fosse um desafio idiota e bem inadequado. Até que começou a passar dos limites, cometendo delitos como uso de drogas ou invasão de propriedade. Só que um dia fez algo muito pior: dirigiu embriagado e atropelou um garoto de 15 anos, deixando-o paraplégico.

Na minha cabeça (e na da Sidney), ele é uma pessoa  que claramente precisa de limites. Alguém que precisa reconhecer que errou, e errou bem feio. Que tem que aceitar que foi o causador de uma tragédia na vida de alguém e procurar uma forma de lidar com isso de frente. Mas não na cabeça dos pais dele, principalmente na da mãe, que é quem controla sua casa. Ela vê o filho como vítima e procura mimá-lo da maneira que for possível, mesmo que ele esteja na prisão. Sidney sofre muito com a situação por discordar do comportamento e da visão dos pais, mas não só por isso. É obrigada a aturar visitas frequentes de um cara sinistro, Ames, o melhor amigo de Peyton. Seus pais são fãs dele e não percebem o quanto sua simples presença faz mal à garota.

Admirei a Sidney desde o primeiro momento. Apesar de não estar passando por momentos nada legais, faz de tudo para se virar. Tem consciência de seus próprios limites, e por isso pede para trocar de escola para poder recomeçar, o que não seria possível com os colegas que estudavam com ela desde pequena a encarando e julgando por causa das atitudes do irmão. Felizmente, sua nova escola traz ótimas surpresas, como uma nova melhor amiga: Layla.

Como não amar a Layla? A garota tem um instinto infalível que a faz querer proteger Sidney antes mesmo de conhecê-la. E, quando a conhece de verdade, a aceita sem fazer nenhum julgamento, e ainda passa a dividir sua família com ela. Sidney descobre como é ser amada simplesmente pelo que é, sem precisar parecer perfeita ou se sentir completamente sufocada. Para finalizar, Layla está sempre em busca da batata frita perfeita - tenho mania de comparar batatas fritas, então entendo perfeitamente essa busca... rs...

A leitura desse livro me deixou agoniada em vários momentos. O fato dos membros da família da Sidney não enxergarem tudo pelo que ela estava passando me deu vontade de entrar dentro do livro e dar uma bofetada na cara deles. Ou duas, ou três. Ou uma surra completa mesmo. Como pode uma mãe estar tão focada no filho que fez tudo errado, e praticamente não enxergar a outra filha que precisa dela, que deseja apenas que ela a veja e compreenda? E como pode um pai ser tão absurdamente omisso? O pior é que já convivi com uma família bem parecida com essa e o final da história não foi muito feliz. Sorte que a Sidney é uma garota forte, uma garota naturalmente boa, estudiosa e companheira, então não se rendeu a lamentos nem se tornou uma rebelde propensa a cometer os mesmos erros do irmão.

Então, como podem perceber, o livro trata bastante de relacionamentos familiares. Também trata de amizade, de amor, de autoconhecimento, de amadurecimento. A história me prendeu desde a primeira página e foi me envolvendo cada vez mais. A revisão está excelente, não me lembro de ter visto nenhum erro; as páginas são amarelas e a fonte de um tamanho que torna a leitura bem confortável. A capa já tinha me conquistado de cara, mas saber que faz referência a um momento lindo do enredo me fez gostar ainda mais dela.

Os bons segredos é um livro que nos faz refletir e que nos mostra a importância de sermos sinceros com os outros e com nós mesmos. Que demonstra que precisamos uns dos outros para encarar os obstáculos da vida e nos tornarmos pessoas melhores, e que não devemos nos negar a oportunidade de sermos perdoados - inclusive por nós mesmos. Com certeza uma leitura que recomendo para qualquer leitor. 

Quando nos vemos diante da coisa mais assustadora, só queremos voltar atrás, nos esconder no nosso lugar invisível. Mas não podemos. É por isso que o importante não é apenas sermos vistos, mas ter alguém que nos veja também.