[Resenha - Novo Século] Entre o amor e o silêncio

Título: Entre o amor e o silêncio

Autora: Babi A. Sette

Editora: Novo Século

Skoob

Francesca Wiggs sofreu uma grande decepção amorosa e, desde então, está decidida a não se relacionar mais. Além de se dedicar a escrever o seu livro, ela resolve preencher os dias com um trabalho voluntário – a leitura para pacientes em coma proporcionaria para ela a distância para problemas com o coração. No entanto, um grande imprevisto ocorre quando ela passa a se sentir atraída pelo paciente. Mitchell, descrito como um poderoso magnata, seria a antítese de tudo o que ela busca em um homem... se não estivesse em coma. Precisar de alguém inconsciente seria um absurdo, não seria? Amar uma pessoa que nunca responde parece loucura! Francesca já havia entendido e sentia-se quase segura diante disso. Mas, e se Mitchell acordasse? A aproximação desses personagens tão diferentes revela um romance encantador e divertido, repleto de reviravoltas. Entre a vida e a morte, a ilusão e a realidade, o amor pode ser realmente o milagre que faz tudo mudar?

Ganhei esse livro da autora, que é uma fofa, durante a Bienal de São Paulo do ano passado (obrigada de novo, Babi!). Queria muito ler, e rápido... mas aí, o que aconteceu? O livro virou febre, foram publicadas resenhas infinitas, e peguei um spoiler que me deixou tão brava que o deixei de lado por quase seis meses... pois é. Eu tenho horror de spoilers e acho que as pessoas deveriam avisar quando as resenhas os possuem. Mas me comprometi a dar minha opinião sobre o livro, então tive que superar isso para conhecer a história.

Entre o amor e o silêncio é um tanto quanto complexo, e tem várias histórias interligadas à, digamos, história principal, que é a citada na sinopse. Francesca, a protagonista, foi abandonada pelo pai quando tinha pouco mais de um ano. Passou muito tempo evitando se entregar a qualquer homem, até que conheceu o sócio e diretor da escola de teatro que começou a frequentar, Vince. Mas, após 3 anos, as coisas não terminam nada bem entre eles, e ela fica devastada. 

Mas nem todas as consequências do término traumático foram ruins: Francesca trabalha como freelancer em editoração de textos, mas o sofrimento faz com que ela consiga inspiração para começar a escrever seu próprio livro. Além disso, decide fazer um trabalho voluntário, lendo para pessoas em coma em um hospital. Uma das minhas coisas preferidas durante a leitura foi o livro dentro do livro. A Francesca lê para o Mitchell partes do livro que está escrevendo... E sim, ela lê no hospital, enquanto ele está em coma, e é no hospital que percebe que está irremediavelmente apaixonada por um homem que não conhece.

Amo o seu silêncio. (...) Existe alguma coisa no seu silêncio que me faz entender o que não se explica.

Ao contrário do que eu imaginei quando li a sinopse, não conhecemos Mitchell já em coma. Antes disso, a autora nos permite acompanhar um pouco da vida dele, e não é uma vida nada legal... sim, ele é lindo, milionário, poderoso; dirige uma organização gigantesca com negócios em várias partes do mundo. Mas não consegue ter uma vida pessoal decente, seu relacionamento com a família se resume ao inevitável, e seus relacionamentos amorosos duram tão pouco tempo que nenhum deles poderia nem receber esse nome. São casos muito rápidos, sempre com mulheres famosas e estonteantes.

- Sempre achei que os relacionamentos são complicações dispensáveis. (...) As relações, ao meu ver, são quase uma competição hipócrita de quem consegue ser mais carente ou mais mentiroso. (...) Acho que se todos encarassem a vida desta maneira, tudo seria menos... complicado.

Minha relação com o livro foi de amor e ódio. Foi uma leitura lenta, porque a Babi usou uma linguagem bem mais rebuscada do que estou acostumada, e às vezes chegava a me perder quando lia algumas palavras. Levei umas duzentas páginas (são 527 no total) para me acostumar com o estilo da autora mas, depois disso, a leitura se tornou mais confortável. Só que tive problemas em descobrir o que eu realmente pensava sobre as personagens. Em alguns momentos, me identificava e me comovia. cheguei a chorar em dois trechos (as avós, sempre as avós, destroçando o meu coração); em outros, só queria dar uns tapas nas pessoas e mandar crescer. Algumas partes do livro eu devorei, em outras a leitura foi arrastada. Enfim, terminei a leitura ontem e desde então tento chegar a alguma conclusão sobre minha opinião geral, sem sucesso.

Realmente acontece muita coisa, podem esperar pelas reviravoltas prometidas, porque elas com certeza marcam presença. Adorei várias personagens secundárias, principalmente os amigos inseparáveis da Francesca, Lilly e Tom. Eles dão um toque divertido à história, mas também têm sua cota de drama. A autora aborda vários assuntos, como depressão, corrupção, egoísmo e orgulho. É uma história que, apesar de possuir todos os ingredientes para me fazer amá-la completamente, só conseguiu esse resultado em alguns trechos. De qualquer maneira, foi uma leitura que valeu a pena, já que o livro me causou várias reações, e isso é algo que eu valorizo bastante.

- Acho que todos nós, quero dizer, nós humanos, temos as nossas vidas emocionais montanhosamente loucas. (...) Como um trajeto de uma montanha. Hora estamos na subida e é penoso, desafiador, e então alcançamos o cume. Calmo, recompensador, e aí cansamos da vista e resolvemos buscar novidade, assim, pegamos a descida, que é adrenalina, entusiasmo e liberdade... Para então, subirmos uma vez mais e, concluindo, eu diria que somos alpinistas emocionais.