[Resenha - Planeta] Nem tudo será esquecido

Título: Nem tudo será esquecido
Autora: Wendy Walker
Tradução: Maryanne Linz
Editora: Planeta
Número de páginas: 288

Um dos suspenses psicológicos mais elogiados nos Estados Unidos. Tudo parece perfeito na pequena Fairview, em Connecticut, até a noite em que a adolescente Jenny Kramer é violentada durante uma festa. Nas horas posteriores, ela é medicada com uma droga controversa para que as memórias da violência sejam apagadas. Mas, nas semanas que se seguem, enquanto se cura das dores físicas, Jenny percebe que guardou nuances daquela noite. O pai, obcecado por sua incapacidade de descobrir quem abusou de sua filha, busca justiça, enquanto a mãe tenta fazer de conta de que o crime não abalou seu mundo cuidadosamente construído. Segredos da família e do círculo próximo começam a vir à tona durante a busca incessante pelo monstro que invadiu a comunidade – ou que talvez sempre tenha estado lá –, guiando este thriller psicológico para um fim chocante e inesperado.

Nem tudo será esquecido conta a história de Jenny Kramer, uma garota de 15 anos estuprada em uma mata ao deixar uma festa depois de ter seu coração partido. Seus pais, ao saberem do acontecido, tomam rapidamente uma decisão: apagar as memórias da filha a respeito do episódio. Essa era uma possibilidade devido a um tratamento experimental, que aparentemente tinha mais chances de eficácia quanto antes fosse aplicado.

Acontece que não é como se Jenny não soubesse o que aconteceu. Contaram a ela, o tratamento apenas a poupou dos detalhes. E o corpo dela não havia esquecido, havia uma pequena cicatriz em suas costas que confirmava o ocorrido de forma física. Além disso, algumas emoções ficaram retidas e ela não sabia como lidar com elas. A garota não conseguia mais se controlar, e chegaram à conclusão de que só existia uma coisa que poderia ajudá-la realmente: lembrar o que aconteceu e, assim, poder trabalhar emocionalmente os fatos e seguir com a vida de uma forma mais saudável. E assim começou um longo processo para tentar reverter o que havia sido feito.

 

Eu esperava algo diferente quando comecei a ler esse livro. Antes de tudo, senti falta do ponto de vista da própria Jenny. Em thrillers psicológicos é importante para mim entrar dentro da cabeça da protagonista. Só que eu apenas esperava que a adolescente fosse a protagonista, isso não acontece de verdade. A narrativa é feita em primeira pessoa por um outro personagem, alguém que só se identifica depois de um tempo mas que eu já havia adivinhado de quem se tratava. É essencial para o enredo que esse personagem seja o narrador.

O tipo de relato que recebemos é bem característico. É uma pessoa que tem acesso a todos os participantes do enredo e que algumas vezes nos diz exatamente o que ouviu dessas outras pessoas. E acho importante dizer que o livro tem pouquíssimos diálogos. Isso tornou a leitura cansativa para mim no início, até que eu me adaptasse ao estilo da autora. Depois consegui me envolver e a leitura fluiu mais, mas devido ao tipo de narração, mais distanciada dos acontecimentos, não foi aquele envolvimento completo, em que a gente sente tudo o que os personagens sentem também.

Não me afeiçoei a ninguém. É claro que senti um ódio profundo pelo estuprador, mas como sua identidade só foi revelada quase no fim da narrativa não consegui direcionar esse ódio a ele no decorrer do enredo. Quanto ao final, bem, a autora soube finalizar a história sem deixar pontas soltas, mas achei a explicação um pouco decepcionante, apesar de plausível. 

 

Gosto bastante da capa, mas não sei se é a mais adequada. Essa garota com olhar vazio, de que vemos apenas fragmentos, remete muito à Jenny. Mas, como já disse, ela não tem a importância que imaginei que teria no enredo. De qualquer maneira, talvez usar outro aspecto da história na capa pudesse revelar demais. A fonte tem um tamanho confortável para leitura e as páginas são amarelas.

Achei o livro bem forte. Ele aborda o quanto a mente humana é delicada, o quanto precisa ser tratada com cuidado. E também mostra que manipular as pessoas não é algo difícil quando se tem o conhecimento necessário. Demonstra que alguém precisa ter uma estrutura emocional muito bem formada para conseguir resistir a sugestões de outras pessoas em quem confia. Fala da importância de termos cuidado com o tipo de informação que compartilhamos, e com quem compartilhamos. Foi uma leitura realmente bem diferente do que imaginei que seria, mas mesmo não sendo tudo que eu esperava ainda valeu a pena.