[Resenha - Bertrand Brasil] Um chapéu cheio de céu

Esta resenha não possui spoilers deste livro ou do livro anterior da série.

Resenha de Os Pequenos Homens Livres

Título: Um chapéu cheio de céu

Autor: Terry Pratchett

Tradução: Alexandre Mandarino

Livro #2 da série Tiffany Dolorida

Editora: Bertrand Brasil

Número de páginas: 336

Skoob

Do aclamado autor da série Discworld, uma divertida e bem-humorada aventura em seu mundo fantástico. Tiffany Dolorida, alguns anos após suas aventuras no tenebroso Reino das Fadas, deverá colocar seus talentos em bruxaria novamente à prova ao embarcar em mais uma aventura: deixar sua casa e suas terras para trás e se tornar aprendiz de uma bruxa de verdade. Mas o que ela não sabe é que uma criatura incorpórea e sagaz está lhe perseguindo, um ser ancião e incompreensível do qual nem mesmo a Madame Cera do Tempo (a maior bruxa do mundo) poderá protegê-la. Dessa vez, serão úteis as habilidades de roubos, briga e bebedeira dos Nac Mac Feegle, os Pequenos Homens Livres, ou deverá Tiffany depender única e tão somente de si?

Tiffany Dolorida é uma garota de 11 anos que pertence a uma família de pastores, mas que decidiu que queria ser bruxa pouco antes de ser obrigada a lidar com seres mágicos. Um chapéu cheio de céu se passa dois anos depois dos acontecimentos de Os Pequenos Homens Livres, e chegou a hora da protagonista ser treinada por uma bruxa. 

Tiffany é mandada para um lugar bem distante, já que no local em que reside não há ninguém que utilize magia - primeiro, porque a maior parte das bruxas considera que aquela terra não pode dar origem a uma boa bruxa, pois o Giz é um terreno frágil; segundo, porque o povo de lá não admite que se exerça a bruxaria, e a última pessoa que suspeitaram que possuía algo de magia morreu completamente desamparada. Tiffany tem a impressão de que está sendo seguida durante sua jornada, mas não consegue definir por quem. Mal sabe ela que não é exatamente uma pessoa que a persegue, e sim uma criatura incorpórea muito antiga que não pode ser morta e que ninguém sabe como derrotar...

Cada um dos livros dessa série (são cinco no total) conta uma história completa. Claro que é legal ler na ordem para acompanhar os acontecimentos da vida da protagonista, mas é possível ler individualmente. Neste volume, Tiffany faz muitas descobertas. Percebe que há bruxas de todos os tipos, assim como há pessoas de todos os tipos na aldeia de onde ela veio. Tem gente que quer simplesmente aparecer; gente que tem uma enorme sede de poder, embora teoricamente não exista hierarquia entre as bruxas; gente que se desdobra para fazer todo o bem possível às pessoas ao redor; e gente que por mais que saiba muito mais que os outros não faz nenhuma questão de se expor.

No primeiro livro, Tiffany aprendeu que era essencial ser curiosa, inteligente e perspicaz para ser bruxa; nesse, aprende que tão importante quanto isso é ser generosa, caridosa, boa, leal e honesta. Mais uma vez ela terá a ajuda dos Pequenos Homens Livres, que são seres originários do mundo das fadas mas que vivem atualmente no nosso mundo, chamados de Nac Mac Feegle. Os feegles são conhecidos por darem mais importância a roubos, brigas e bebida do que a qualquer outra coisa, mas quando alguém se torna especial para eles fazem de tudo para que esta pessoa esteja sempre segura.

No primeiro volume tive a sensação de que não eram necessárias tantas páginas; já nesse, que é um pouco maior, cada linha foi essencial para a narrativa. A revisão também está melhor, embora eu ainda tenha encontrado alguns erros. A diagramação é simples, as folhas amarelas e a fonte de um tamanho confortável.

O livro trata de assuntos importantes, como o medo que as pessoas têm do desconhecido e o fato de que esse medo algumas vezes as paralisa e as impede de seguir em frente e, outras vezes, faz com que tenham atitudes impensadas e injustas de que podem se arrepender muito depois. Mas o autor nos mostra que coisas maravilhosas podem acontecer quando enfrentamos o medo e tentamos entender sua real causa - o medo muitas vezes pode ser mútuo. Adorei essa leitura e espero que a Bertrand não demore muito para publicar os outros três volumes da série.

Por que você parte? Para que possa voltar. Para que possa ver o lugar de onde veio com novos olhos e cores diferentes. E as pessoas de lá veem você de forma diferente, também. Voltar ao ponto de partida não é a mesma coisa que nunca partir.