[Resenha - Planeta] Uma Loja em Paris

Título: Uma loja em Paris

Autor: Màxim Huerta

Tradução: Fal Azevedo

Editora: Planeta

(Selo Essência)

Número de páginas: 256

Skoob

Num dia qualquer, quando andava sem rumo pelas ruas de Madri, Teresa, uma órfã rica que vive sob o rígido controle de sua tia Brígida, se vê impelida a entrar em um antiquário, atraída por uma tabuleta de uma antiga loja parisiense de tecidos. De volta ao seu apartamento, após fixar a tabuleta em seu escritório — que compra sem saber muito o porquê —, a jovem é atormentada por uma série de sensações, percepções e visões que, ao que tudo indica, fazem referência à dona da tal loja, Alice Humbert, que viveu na Paris dos anos 1920. Quem terá sido essa mulher e por que a sua história agora lhe bate à porta de uma maneira tão intensa, Teresa se pergunta. Sem perder tempo, ela parte em busca das respostas na mágica, romântica e colorida capital francesa, para onde se muda. Inspirado pelos “anos loucos” vividos na Paris de Hemingway, Modigliani, Coco Chanel e Paul Poiret, o jornalista espanhol Màxim Huerta apresenta uma história de amor que resistiu ao tempo e transpassou décadas até atingir em cheio o coração de Teresa.

Gosto da maior parte dos livros que leio, afinal, escolho os que vou ler de acordo com minhas preferências, esperando que me agradem. Mas é bem de vez em quando que encontro um livro especial, que toca o meu coração como esse tocou. Ele é muito real; tem alguns trechos melancólicos e, ao mesmo tempo, personagens dispostas a parar de viver em um mundo cinza, a colorir suas vidas. Personagens que buscam a felicidade, que agem para encontrá-la. Pessoas imperfeitas, que cometem erros e que encaram as consequências de seus atos.

Quem foge da verdade acaba tropeçando nela. Acredita-se que viveremos para sempre e que existe tempo para corrigir seus erros, mas não. Os erros se encarregam de jogar sal em nossos olhos. 

No início, temos a narrativa somente no tempo presente, e acompanhamos a vida de Teresa Espinosa, uma órfã que foi criada de forma super rigorosa por sua tia em Madri. Um dia, vê em um antiquário uma tabuleta de uma antiga loja de tecidos de Paris. É atraída por ela de forma inexplicável, e a compra imediatamente. É a partir daí que coisas estranhas começam a acontecer. Parece que a dona da antiga loja quer que ela vá até o local para descobrir alguma coisa. Mas, só quando tem um enorme desentendimento com sua tia, Teresa toma coragem de recomeçar em um lugar bem diferente.

Odiava ter de recomeçar. Durante toda minha vida preferi esfumaçar meus erros antes de rasgar o papel e começar a desenhar de novo. A gênese das coisas me parecia a coisa mais chata do mundo.

Em certa parte do livro, o autor introduz também cenas do passado, que nos mostram aos poucos a história de Alice, que viveu nos anos 1920. Na primeira vez em que isso aconteceu fiquei completamente perdida, porque foi muito de repente, sem nenhuma sinalização. Mas, na segunda vez, já havia me adaptado a essas alterações de tempo, que acontecem sempre no início dos capítulos. 

Alice não teve uma vida nada fácil, mas usou toda a sua capacidade de adaptação para sobreviver e, quem sabe, um dia realizar seus sonhos mais profundos. O autor incluiu personalidades reais no enredo, como os pintores Modigliani e Kisling, a estilista Coco Chanel e a modelo Kiki de Montparnasse, e isso ajudou ainda mais a recriar a atmosfera da época, mesmo que ele tenha alterado algumas coisas a respeito de alguns deles, como sua idade e a época em que viveram.

- Mas você por acaso tem vontade de ser sensata? Não viemos à vida para sermos sensatos! O medo é o que mais nos paralisa e o que nos deixa infelizes. 

Me envolvi muito com a leitura, Màxim soube fazer com que eu me sentisse naquela Paris do passado e também na Paris do presente. Quando eu percebia que alguma coisa ruim ia acontecer, já começava a sofrer pela personagem que teria que encarar mais uma provação. Em compensação, algumas vezes pressenti que alguma coisa boa estava chegando, e aí tive que lidar com a ansiedade, mas pelo menos lidei com ela sorrindo.

Foi um livro que me proporcionou várias reflexões. Nem todas as personagens agem de uma forma legal, algumas inclusive parecem ser fundamentalmente más e invejosas. Felizmente, outras estão dispostas a fazer o bem, a ajudar sempre que possível. Adorei acompanhar os passos de Teresa para desvendar o mistério do passado ao mesmo tempo em que o autor ia contando partes da história de Alice, e gostei muito da maneira como tudo acaba se interligando de alguma forma no final. 

Não há nada mais bonito do que estar entre seus sonhos e sentir que não se está dormindo, que se está bem acordado.