[Resenha - Globo Alt] O Amor nos Tempos do Ouro

Título: O Amor nos Tempos do Ouro

Autora: Marina Carvalho

Editora: Globo Livros

(Selo Globo Alt)

Skoob

Ambientado no século XVIII, o novo livro da mineira Marina Carvalho é uma história de amor ousada e tocante que se passa durante o período colonial no Brasil, resultado de meses de pesquisa por parte da autora, que se declara fã de História. Cécile Lavigne é uma jovem que nasceu em uma família de nobres, filha de uma portuguesa de Coimbra, pertencente à Casa de Bragança, e de Antoine Lavigne, aristocrata francês de mente liberal e dono de uma riqueza imensurável. Após um acidente, a garota perde os pais e os dois irmãos e, antes de completar 20 anos, é enviada ao Brasil pelo único parente que lhe restou, o ambicioso tio Euzébio, para casar-se com um latifundiário de Minas Gerais. Depois de desembarcar no Rio de Janeiro, Cécile sente-se angustiada pela falta da família e teme o futuro que terá ao lado de um homem que tem idade para ser seu pai e é conhecido por suas crueldades com seus escravos. Porém, o trajeto entre o Rio e Minas promete mudar o destino da garota: o explorador Fernão, contratado pelo seu futuro marido para acompanhá-la na viagem, despertará nela sentimentos de aversão e de desejo. Enquanto aguarda o temido casamento arranjado, Cécile vai descobrir os encantos e perigos que existem na nova terra e os sentimentos mais nobres que vivem dentro de si. Com o cuidado precioso com a linguagem, que é característico dos romances de Marina Carvalho, e construindo de forma detalhada cada um dos personagens, bem como o cenário e o contexto social da época, O amor nos tempos do ouro apresenta um enredo sedutor, cativante e que serve como espelho para os anseios dos jovens contemporâneos que estão prestes a chegar à fase adulta.

Cécile sempre foi uma jovem de sorte. Nasceu em uma família bem rica de nobres, e vivia feliz com os pais e os irmãos na França. Seu pai, inclusive, afirmava que ela poderia se casar com quem quisesse, que respeitaria o desejo de seu coração. Só que a garota perde de repente todos os seus parentes mais próximos; e um tio com quem nunca conviveu, o irmão de sua mãe que vive no Brasil, é nomeado seu tutor. É um ser sem escrúpulos que vê a sobrinha apenas como um objeto de troca que pode deixá-lo rico, e exige que ela se mude. 

Enquanto Cécile enfrenta uma terrível viagem pelo mar, ele aproveita para negociar seu destino. Antes que chegue ao Brasil, é prometida a um velho sem caráter e que ainda acredita que faz tudo conforme a vontade de Deus - inclusive quanto à parte de manter escravos em sua propriedade e castigá-los com muita frequência. Um homem é contratado para acompanhá-la do Rio a Minas e entregá-la a seu noivo. O que eles não esperavam era descobrir que tinham impressões tão errôneas um sobre o outro. 

Cécile é uma mocinha muito interessante. A liberdade com que foi criada faz dela uma garota completamente sem limites, que não vê nada de errado em emitir sua opinião sem que alguém lhe peça, que não se intimida com ameaças e que acha impossível deixar de lutar por algo em que acredita. Durante a maior parte do livro, gostei muito dela. Mas algumas vezes tive que interromper a leitura de tanta vontade de esganar a criatura por causa de uma atitude imprudente (para não dizer tapada). Quando a pessoa sai sozinha uma vez e algo dá errado é compreensível, mas quando ela insiste nessa atitude já sabendo do risco, aí chega a ser burrice e extremamente irritante... mas felizmente ela acaba entendendo isso.

Amei vários dos personagens secundários - e odiei outros, como o noivo, obviamente. A maior parte deles é essencial para o enredo, e mesmo com pequenas participações tornam-se marcantes. Ainda que a autora tenha optado por uma história com muitos personagens, todos são fáceis de identificar por terem sido bem trabalhados.

Se eu tinha algum receio, era com relação à parte histórica. Preciso confessar, com muita vergonha de mim mesma, que não me interesso muito pelo tema. Mas a Marina soube trabalhar isso de uma forma que aumentou bastante meu interesse no enredo; contou vários fatos que eu desconhecia e coisas que podem até ser consideradas curiosidades foram incluídas também - eu, por exemplo, não sabia da existência da expressão negros da terra, que se referia aos nativos que não eram brancos como os europeus e lembravam os africanos.

Se o livro tem algum erro, não percebi. A história me envolveu completamente e a diagramação, o tamanho da fonte e as páginas amarelas tornaram minha leitura ainda mais agradável. Fiquei encantada pelo enredo, torci muito para que Cécile tivesse seu final feliz. Senti muita raiva em alguns momentos e suspirei com frequência. 

O fim do livro me deixou bem satisfeita, a história da protagonista teve um ótimo fechamento. A Marina deixou algumas coisas em aberto sobre outros personagens, e já está escrevendo o segundo livro, que acredito que terá protagonistas diferentes, apesar de não ter encontrado nenhuma informação sobre o assunto. Que venham muitos outros romances históricos dessa autora que me fez ter vontade de conhecer mais sobre a parte que considero a mais vergonhosa da nossa história.