Esta resenha foi escrita por mim e publicada originalmente no blog Ler e Imaginar.
Título: Ainda estou aqui
Autor: Marcelo Rubens Paiva
Editora: Alfaguara
Número de páginas: 296
Trinta e cinco anos depois de Feliz ano velho, a luta de uma família pela verdade. Eunice Paiva é uma mulher de muitas vidas. Casada com o deputado Rubens Paiva, esteve ao seu lado quando foi cassado e exilado, em 1964. Mãe de cinco filhos, passou a criá-los sozinha quando, em 1971, o marido foi preso por agentes da ditadura, a seguir torturado e morto. Em meio à dor, ela se reinventou. Voltou a estudar, tornou-se advogada, defensora dos direitos indígenas. Nunca chorou na frente das câmeras. Ao falar de Eunice, e de sua última luta, desta vez contra o Alzheimer, Marcelo Rubens Paiva fala também da memória, da infância e do filho. E mergulha num momento negro da história recente brasileira para contar — e tentar entender — o que de fato ocorreu com Rubens Paiva, seu pai, naquele janeiro de 1971.
Quando peguei esse livro para ler, tinha uma expectativa completamente diferente. Pensei que o foco dele seria na mãe do Marcelo, Eunice, e em sua convivência com o Alzheimer. Essa é a doença que mais me aterroriza, e procuro conhecer mais sobre ela, para, quem sabe, diminuir um pouco o meu medo. Mas a verdade é que cada informação extra que recebo me deixa com mais pânico dessa doença cruel. Não é que o assunto não seja tratado no livro, é sim, e os trechos em que o efeito do Alzheimer foram descritos me deixaram completamente engasgada. Mas esse realmente não é o foco da narrativa.
Na verdade, o foco é a ditadura militar. E, infelizmente, não é um assunto que consiga me prender. Eu sei que não é nada bonito a pessoa não se interessar por história, nem mesmo pela história do próprio país. Mas a verdade é que não consigo ler sobre isso. Duas coisas fizeram com que essa leitura se tornasse quase eterna pra mim: o fato de eu não curtir o assunto e a menção constante da tortura - mesmo sem descrições. Levei pelo menos umas três semanas para ler um livro de menos de 300 páginas, só conseguia ler de 10 a 15 páginas por dia, e com muito esforço.
Entendam, o livo não é ruim, muito pelo contrário. Só não acho que seja uma leitura indicada para mim. Mas, com certeza, muita gente vai gostar demais. Ele descreve de forma bem minuciosa o período histórico da ditadura, detalha a composição de importantes órgãos, mostra como a liberdade era uma coisa basicamente inexistente no período. Não consigo nem imaginar o que o Marcelo, sua família e as famílias de todas as pessoas que desapareceram passaram - e ainda passam.
O autor teve seu pai retirado à força de casa quando ainda era uma criança, e ele nunca mais voltou. Não só não voltou como levaram anos para conseguir que sua morte fosse admitida, e até hoje não têm ideia do que foi feito com seu corpo. É uma coisa de tal monstruosidade que nem dá para pensar muito a respeito, é de enlouquecer. E muita gente quer a volta dos militares ao poder. Não vivi essa época, mas espero nunca ter que passar por nada parecido.
E se não bastasse a família ter tido que enfrentar isso, a mãe do Marcelo começou a apresentar sintomas do temido Alzheimer. Mesmo que este assunto não tenha sido o principal do livro, ainda consegui receber algumas informações novas. Eu não tinha nem ideia de que a pessoa afetada pela doença chegava ao ponto de esquecer como andar, como engolir. Consegue ser algo pior do que eu imaginava. E normalmente tem como efeito colateral o mau-humor, o que torna ainda mais complicado para as pessoas próximas conseguirem conviver com o problema. É preciso mesmo muito amor, muita resignação, lembrar-se sempre de que a pessoa que conhecemos e por quem temos afeição ainda está lá.
Doeu mais em mim porque, em vários trechos do livro, conheci outra Eunice. A mesma que conheci em Feliz Ano Velho, uma Eunice forte, que sempre fez a família se manter unida, nunca deixou que se entregassem à tristeza. Uma Eunice que recomeçou várias vezes, que foi estudar direito depois de perder o marido, que conseguiu ganhar dinheiro com isso ao se tornar a advogada de família de confiança de muita gente, e que pode se dedicar a algo que realmente lhe tocava: o direito indígena. Uma mulher realmente admirável.
Embora tenha sido uma leitura muito difícil para mim, acabou me marcando mesmo assim. É um tipo de livro de que ninguém sai ileso, sem pensar sobre o conteúdo. Portanto, mesmo que eu não tenha realmente gostado dele, foi uma leitura muito válida.
Oie,
ResponderExcluireste livro deve ser angustiante de ler. Não sei como iria escreve ruma resenha dessas, ainda mais com um livro se passando na ditadura militar. E ainda temos o Alzheimer, doença tão cruel.
Beijinhos, Helana ♥
In The Sky, Blog / Facebook In The Sky
Ele não se passa na ditadura, Helana, apenas fala sobre esse período histórico. Cita fatos que ocorreram naquela época.
ExcluirTe entendo em relação ao Alzheimer, sem dúvidas essa doença é terrível, pois não há nada que você possa fazer para evita-la e nada que você possa fazer para cura-la. Sobre o livro, eu também já li livros que não conseguia ler muitas páginas de uma vez. O conteúdo me atingia em cheio, eu sentia o sofrimento dos personagens e não conseguia seguir adiante. Essa estória realmente parece ser desse tipo, daquelas que não há como não nos transportarmos para a vida das personagens.
ResponderExcluirAdorei a sua resenha, bjs.
http://ciadoleitor.blogspot.com.br
Olá, eu já ouvi falarem muito do autor e elogiarem suas obras, confesso que fiquei bem curiosa pela sua resenha, parece um livro intenso e cativante. Espero lê-lo um dia desses.
ResponderExcluirBeijos
http://www.oteoremadaleitura.com/
Oie, tudo bem? Livros históricos sempre me chamam a atenção, ainda mais quando são assim tão profundos. Realmente essa doença assusta algumas pessoas, nada melhor que ler para conhecê-la melhor e saber mais. Excelente resenha. Beijos, Érika
ResponderExcluir- www.queroseralice.com.br -
Eu acho que não leria porque assim como você não costumo me interessa por livros que falem de ditadura e afins. Não sou muito de história, mas tenho certeza que ele mexeria comigo.
ResponderExcluirLisossomos
Eu ainda não tive a oportunidade de ler esta obra, mas acho que iria apreciar muito. O livro que tem como foco a Ditadura Militar, acredito que seja muito válido.
ResponderExcluirEu gosto muito de historias assim, principalmente os que tratam de guerra e no nossa caso a Ditadura, gostaria de conhecer esse livro!
ResponderExcluirBeijos
devoreumlivrooufilme.blogspot.com.br
Olá :)
ResponderExcluirAcho muito massa livros que se passam em períodos históricos. Já entrou na minha lista.
E é uma pena que você não curta livros dessa temática :/
Abraço
http://interessantedeler.blogspot.com.br/
Oi Juuu, tudo bem? Então, eu entendo o fato de você não gostar de livros que abordam esse temas. É bem angustiante mesmo! Então quer dizer que são dois livros? Esse é continuação de Feliz ano velho? Eu adoro livros que, por mais chocantes que sejam, me façam refletir, e acredito que tanto a ditadura quanto o Alzheimer têm esse poder de nos fazer refletir! Eu adoraria ler esse livro sim, e já vou providenciar. Bjosss
ResponderExcluirhttp://porredelivros.blogspot.com.br/
Oie,
ResponderExcluirJá sou um pouco diferente Ju, eu quero ler sobre a história do país, porém quase nunca tenho oportunidade de ler livros com esse conteúdo. Já coloquei Alfaguara Ainda estou aqui na minha lista de leituras obrigatórias!
Bjs
Mayla
Oi Ju, tudo bem?
ResponderExcluirNão li "Feliz Ano Velho", mas tenho vontade de ler... foi uma leitura que meu colégio adotou no ensino médio, mas acabei não lendo. Mas enfim, que bom que "Ainda Estou Aqui", mesmo não sendo uma leitura que você gostou muito, ainda sim foi proveitosa.
Acho que a ditadura é uma das partes da nossa história que mais me interessam, apesar de terrível. E imagino que seja bem difícil mesmo ler tudo o que ocorreu nesse época, porque uma coisa é ver as descrições em um livro didático, outra completamente diferente, é ler os relatos de por quem realmente viveu.
Bom, sem dúvida o Mal de Alzheimer é uma doença bem cruel, para quem tem e acho, que principalmente, para quem convive com a pessoa... pois são as que mais sofrem. Eu tive uma tia que teve, e era bem difícil. Parece que o livro, mesmo não focando nisso, ele consegue ainda transmitir o que a doença causa. Acho que um livro que foca bastante nisso, mesmo sendo fictício é "Para Sempre Alice".
Beijinhos,
Rafa
Ei, tudo bem?
ResponderExcluirNunca li nada do autor, mas já ouvi vários elogios. Achei bem interessante a premissa desse livro e espero poder lê-lo em breve.
Beijos, Gabi
Reino da Loucura
Oee! Sou outro que morre de medo do Alzheimer,esquecer das pessoas que ama e até de si proprio,nossa,que pesadelo para se viver,ou pior,para alguem proximo vivendo. Geralmente leio livros para me divertir,não curto muito sofrimento,mas ditadura militar é um assunto que gosto tanto de ler sobre que acho que leria sim,abraço!
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