sexta-feira, 29 de setembro de 2017

[Resenha - Planeta] Garota em pedaços

Postado por Ju às 20:00
Título: Garota em pedaços
Autora: Kathleen Glasgow
Editora: Planeta
(Selo Outro Planeta)
Número de páginas: 384

Quando o plano de saúde de sua mãe suspende seu tratamento numa clínica psiquiátrica – para onde foi após se cortar até quase ficar sem vida –, Charlotte Davis troca a gelada Minneapolis pela ensolarada Tucson, no Arizona (EUA), na tentativa de superar seus medos e decepções. Apesar do esforço em acertar, nessa nova fase da vida ela acaba se envolvendo com uma série de tipos não muito inspiradores. Cansada de se alimentar do sofrimento, a jovem se imbui de uma enorme força de vontade e decide viver e não mais sobreviver. Para fugir do círculo vicioso da dor, Charlotte usa seu talento para o desenho e foca em algo produtivo, embarcando de cabeça no mundo das artes. Esse é o caminho que ela traça em busca da cura para as feridas deixadas por suas perdas e os cortes profundos e reais que imprimiu em seu corpo. Romance de estreia de Katlheen Glasgow, que figurou na lista dos mais vendidos do jornal The New York Times e dos melhores livros do ano de 2016 da Amazon (EUA) e da revista TeenVogue. Nele, os leitores vão se emocionar e se inspirar na história da adolescente de 17 anos que, por conta de sofrer de Transtorno do Controle do Impulso, pratica o “cutting” – um distúrbio que afeta um grande número de jovens brasileiros e também personalidades do universo teen, como Demi Lovato e Britney Spears, entre outras.

Charlie Davis é uma garota de 17 anos que parece ter vivido bem mais do que isso. O pai dela está morto, o relacionamento com sua mãe é terrível, e ela acaba sendo expulsa de casa. Vive um tempo na rua e passa por experiências completamente aterrorizantes. A garota não é capaz de aguentar tudo o que o mundo faz com ela, e acaba decidindo que merece punição por ser um lixo - e essa punição ela inflige a si mesma por meio de automutilação, principalmente através de cortes em sua pele. 

Quando alguém nos machuca ou nos faz sentir mal ou indigna ou imunda, em vez de dar o passo racional de aceitar que a pessoa é babaca ou maluca (...) e que devemos ficar longe pra caralho dela, nós internalizamos a agressão e começamos a culpar e punir a nós mesmas. (...) Eu me corto porque não consigo lidar com as coisas. (...) Preciso de libertação, preciso me machucar mais do que o mundo pode me machucar. Só assim posso me reconfortar.

Depois de se cortar até quase se matar (embora a automutilação seja classificada como autolesão não suicida, nada impede que chegue a esse ponto mesmo sem a intenção), Charlie é internada em uma clínica psiquiátrica com várias garotas com problemas parecidos com o dela. Todas se autimulam, de maneiras diferentes. Só que, ao começar a demonstrar alguma melhora, a garota recebe alta. É uma clínica cara e, se alguém não vai arcar com os custos, ela não pode permanecer. É, então, jogada de volta no mundo. Mas será que vai conseguir sobreviver a ele?

Você guarda as pessoas dentro de você, é isso que acontece. As lembranças e os arrependimentos engolem você, elas vão crescendo e crescendo na medula da sua alma... (...) E aí, bum, você explode.

Fui imediatamente conquistada pela protagonista. Ela tem um carisma enorme e é visível o quanto quer vencer seus impulsos de se machucar. O tempo que passou na clínica, mesmo sendo bem reduzido, a fez ter vontade de lutar para ter uma vida normal, como a de qualquer outro adolescente. Ou pelo menos tão normal quanto a vida de uma adolescente com tantas cicatrizes - tanto externas quanto internas - pode ser.

Precisa encarar uma luta constante contra seus impulsos e contra o preconceito do resto do mundo. Fora que sua autoestima é praticamente inexistente e nem ela mesma consegue encarar seus cortes, o que faz com que use sempre mangas compridas mesmo morando em um lugar extremamente quente - afinal, se ela não consegue encarar o que fez a si mesma, como as outras pessoas conseguiriam?

Várias das personagens secundárias são muito importantes no enredo, a autora as constrói bem e nos faz torcer para que resolvam seus problemas. Claro que também temos personagens detestáveis, que só tornam a vida dos outros mais complicada. A narrativa é extremamente envolvente.

Me surpreendi demais com a leitura. Sim, eu esperava que fosse ser difícil encarar essa história, já que o tema principal não é nem um pouco leve. Eu nunca tinha pesquisado sobre o assunto então fiquei realmente impressionada com o que encontrei. Doeu muito em mim saber o motivo que leva tantas pessoas a buscarem essa dor física. Sempre tive horror até de exame de sangue, então imaginar alguém se cortando ou se queimando só porque é mais fácil que suportar a própria vida partiu meu coração de um jeito que nem sei explicar.

Mas a maior surpresa para mim foi que não consegui parar de ler, mesmo sendo difícil acompanhar tanta coisa ruim acontecendo. Eu devia ter desconfiado do que a autora revela ao leitor: que ela mesma se cortava. A obra é muito intensa e saber que a decisão de escrevê-la foi tomada quando Kathleen viu uma garota com a pele igual à dela me fez ficar com os olhos cheios d'água.

A autora fornece no final algumas estatísticas, e pesquisando mais sobre isso descobri que, embora não tenhamos números oficiais, estima-se que 20% dos adolescentes se automutilem ou já tenham se automutilado. É um número assustador e preocupante demais, que mostra que o assunto não só merece, como precisa ser abordado. Mais um motivo para esta obra ser lida. 

O corte é uma cerca que você constrói no próprio corpo para manter as pessoas do lado de fora, mas depois você chora para ser tocada. Mas a cerca é de arame farpado. E agora? (...) As pessoas deviam saber sobre nós. Garotas que escrevem a dor que sentem nos corpos.

13 comentários:

  1. Olá, não costumo ler livros onde a história é contada por adolescent, acho que por experiências ruins no passado com livros do gênero, mas esse me chmou atenção , sua resenha deixou com uma vontade de acompanhar essa jornada. Dica anotada. Bjus

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  2. Gosto do enredo do livro, assunto polêmico que merece ser levado a luz, uma vez que inúmeras pessoas
    sofrem com problemas iguais ou semelhantes ao de Charlie.
    Gostei muito da dica de leitura e espero ter a rica oportunidade de ler.

    Beijos.
    https://cabinedeleitura0.blogspot.com.br/

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  3. Oi Ju tudo bem?
    Realmente esse livro traz a realidade que a sociedade acho que é besteira ou até fecha os livros, com toda certeza quero ler, já conheci muitas pessoas que praticam esse ato e quem está longe, acaba sendo afetado também, dica anotada e fiquei feliz de saber que ficou viciada praticamente na obra.
    Beijinhos

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  4. Olá, tudo bem? Nossa, parece ser uma estória bem forte e intensa, mas ao mesmo tempo triste, pois sabemos que isso acontece e muito, não é?! Fiquei bem curiosa para ler o livro e saber como esse tema é abordado nas páginas...

    https://duaslivreiras.blogspot.com.br/

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  5. Oi, Ju! Um livro extremamente denso, ao meu ver. Gostei de saber que a autora se inspirou nela própria para criar a história, sem precisar também colocar um romance de para-quedas para "ajudar a mocinha a se reeguer". Foge do padrão comum de livros desse estilo e acho que até entra mais na realidade.
    Bjos!
    Por essas páginas

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  6. Eu acho a premissa desse livro muito instigante e tenho a maior vontade de ler. É um gênero que eu gosto muito e espero gostar bastante da obra quando eu parar para ler. Adorei ler a tua resenha e poder conhecer um pouco mais sobre a trama e ver a tua opinião com a leitura.

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  7. Oi Ju, infelizmente isso é algo comum para muitas pessoas. Imagino como a leitura deva ter sido tensa para você, mas também boa, afinal não quis nem parar.
    Bjs, Rose.

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  8. Olá, nossa eu sempre quis ler esse livro mais como nunca leio a sinopse não sabia que se tratava de um livro com o tema forte, sua resenha está belíssima.

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  9. Apesar de conter uma história bem intensa, fiquei curiosa para conferir essa obra já faz um tempinho. Porém surgiram outros livros e eu acabei esquecendo dele haha, a sua resenha está ótima e me lembrou o quão interessante essa história parece ser. Obrigada pela dica, bjss!

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  10. Oi Ju,
    Já li esse livro, mas, para mim, foi bastante difícil. Não consegui ler esse livro de pronto e imediato, mas me encantei pela história e pela forma como tudo se desenvolve, principalmente, com relação a protagonista, que quer superar seus medos e traumas.
    Queria reler para ver o que vou achar agora.
    Beijos,
    http://www.umoceanodehistorias.com/

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  11. Oie!
    Não costumo ler livros desse gênero, pelo motivo de não ser uma leitura leve, mas acho ótimo quando a leitura flui ao ponto de não conseguirmos largá-la. Gostaria de conhecer a protagonista, mulheres assim sempre são instigantes!
    Parabéns pela resenha!

    Beijos,
    Eli - Leitura Entre Amigas
    http://www.leituraentreamigas.com.br/

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  12. Realmente as novas gerações de adolescentes e jovens vem nos assustando drasticamente. Como professora e como pessoa comum também, tento influenciar para o bem o maior número de pessoas, mas muitos parecem perdidos, distantes, mergulhados em si mesmos... Gostei da resenha, me interessei pela história, só não curti os palavrões da protagonista... Já li algumas histórias com temáticas fortes e nos fazem refletir e continuar firmes em busca de uma vida melhor. Beijos

    Nara Dias
    viagens de Papel

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  13. Olá!

    Já tinha ouvido falar no livro, mas nunca tinha lido uma resenha. Parece ser uma história bem tocante, curti a premissa. Obrigada pela dica!

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