[Resenha] O Advogado da Vida

Título: O Advogado da Vida
Autor: Jean Postai
Editora: Novo Século
Face | Skoob | Leia o 1º capítulo
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Sinopse: Quando começa o direito à vida? Essa pergunta fica quase impossível de ser respondida quando o médico Arthur Galanidel é preso por supostamente realizar abortos ilegais em sua clínica, inclusive em uma menor de idade. O advogado David é escalado para defender o caso, sofrendo a pressão da imprensa e da sociedade, que discutem se uma mulher tem ou não o direito de abortar e se o médico é ou não um criminoso. Será que David conseguirá convencer os jurados a inocentar o médico? Em quais situações é permitido a uma mãe optar por dar ou não a vida a seu filho? Neste emocionante thriller jurídico, as perseguições, tramas e provas são misturadas a todo momento, criando um romance fantástico, de tirar o fôlego. Tudo isso para, no final das contas, o caso ser julgado por sete jurados que decidirão onde começa e até onde vai o mais fundamental dos direitos: o direito à vida. (retirada da contracapa do livro)

Confesso que eu tinha um pouco de medo de ler O Advogado da Vida. Tinha medo do livro ter uma posição muito forte a respeito do aborto, que é seu tema central, e que eu discordasse dela. Porque eu tenho, sim, uma opinião formada e bastante firme a esse respeito. E aí eu odiaria a história desde a primeira linha.

Mas o Jean me conquistou muito rapidamente. O livro é super ágil. Apesar de acompanharmos, inclusive, um julgamento, a linguagem é completamente acessível, não é dado nenhum destaque a termos jurídicos que o leitor não entenderia.

Logo de cara fui surpreendida. Fiquei literalmente de boca aberta, porque esperava que a história fosse por um caminho e, de repente, tudo mudou. E mudou para muito melhor.

Dr. Arthur Galanidel, obstetra das celebridades, é denunciado pela prática de aborto em sua luxuosa clínica. Em um vídeo realizado durante uma reportagem investigativa, ele confessa o crime e, inclusive, frisa que realiza abortos inclusive quando o feto é completamente saudável, desde que essa seja a vontade real da mãe. 

A legislação é complicada e dúbia sobre isso, e há toda uma questão moral que defendemos aqui, razão pela qual já fizemos esse procedimento inclusive em mulheres cujos bebês não apresentavam qualquer doença ou risco de vida para a mãe... Você entende bem isso? (...) Faço esse procedimento por ideologia, por acreditar que essa é uma escolha do casal, que os tornará mais felizes, e não deve ser uma imposição do Estado.

Sua situação se complica quando uma menor concede uma entrevista dizendo que foi coagida por ele a realizar o procedimento. O Ministério Público apresenta uma denúncia e então a vida do médico muda completamente.

- Me sentia terrível por tudo aquilo... por tudo que aquele médico fez... quero dizer, por que ele fez isso comigo? Não tinha experiência... estava confusa... e mesmo assim ele aceitou abortar uma criança... por quê?

De um lado, David Puskas, o advogado de 25 anos que se dispõe a defender o médico no "Caso da Clínica dos Abortos". Um jovem honesto e obstinado pela verdade, que tentará a todo o custo produzir uma boa defesa para seu cliente. Em início de carreira, terá a ajuda somente de seu estagiário, Teo, e de sua secretária, Elaine, para realizar um trabalho quase impossível.

- Ora, o que é pior, fazer um aborto ou criar um filho que você não quer ter? É uma escolha da mãe, de quem gerou o feto. O aborto é permitido na Holanda... na França e nos Estados Unidos, se não me engano; será que esses países estão tão errados assim?

Do outro lado, a promotora Morgana Corbani, com muitos anos de experiência e disposta a tudo para condenar o médico. Ela usa, muitas vezes, de métodos nada éticos. E claro que eu passei a odiá-la bem rápido.

- Não cabe a nós, seres humanos, definir se uma vida deve nascer ou não, pois a partir do momento em que sabemos de sua existência, a partir do exato momento em que a existência de uma vida no corpo de uma mãe é constatada, existe ali algo sagrado, acima de nós... e que não pode ser descartado...

O autor, no final do livro, afirma em uma nota: Este livro não buscou, em momento algum, formar ou induzir o leitor sobre o direito à vida, e não é uma defesa a favor ou contra o aborto, mas sim um debate saudável sobre a questão que tanto nos assola e que é um problema de saúde pública. Bom, pode ter sido essa a intenção, e realmente vários pontos referentes às duas posições são apresentados ao leitor, mas eu achei que os dois lados tiveram uma representação desigual. Porque a maioria das pessoas que se declaram contra o aborto são pessoas fanáticas, ou pessoas sem nenhuma ética. A meu ver, o time que luta pela descriminalização do aborto e que é a favor de sua realização é bem mais simpático e convincente.

Apesar disso, considero super válido e corajoso escrever um livro que aborda um tema tão delicado e importante. É necessário que essa discussão aconteça, sim, pois o aborto ser considerado um crime não impede que muitas mulheres o realizem e que, graças às condições precárias que têm à sua disposição, várias morram durante o procedimento. Não sou a favor do aborto, mas realmente não sei se proibi-lo é benéfico.

Enfim, leiam, tirem suas próprias conclusões. A leitura de O Advogado da Vida é bem agradável, ao contrário do que pode parecer devido ao tema. E serve para nos proporcionar uma visão muito mais abrangente sobre esse assunto tão importante.

Obrigada, Jean, por ter enviado o exemplar para resenha.