[Resenha - Rocco] O coletor de espíritos

Título: O coletor de espíritos

Autor: Raphael Draccon

Editora: Rocco

(Selo Fantástica Rocco)

Número de páginas: 272

Skoob

Quando a chuva aflige o vilarejo de Véu-Vale pelo terceiro dia consecutivo, as ruas iluminadas por tochas ficam desertas; as janelas, uma a uma, se fecham; nesses dias, quem caminha pelas ruas de Véu-Vale caminha sozinho. Em O coletor de espíritos, novo romance de Raphael Draccon, um dos principais nomes da literatura de fantasia nacional, Gualter Handam, antigo morador do vilarejo e hoje um psicólogo prestigiado, se vê obrigado a retornar ao local que povoa seus pesadelos. Depois de tantos anos, ele terá de encarar antigos fantasmas e enfrentar uma força desconhecida e furiosa, numa jornada de sacrifício e redenção que poderá finalmente libertar todo um povo das garras do medo.

Faz muito tempo que queria ler um livro do Raphael. Tenho vários em casa, inclusive, só que ainda não consegui encaixar na fila de leituras. Foi com o lançamento da edição física desta obra que a oportunidade surgiu (a edição digital saiu há mais tempo). 

A obra nos apresenta Gualter Handam, que a vida acabou por transformar em um psicólogo de celebridades. Foi aquilo, ele atendeu uma pessoa, que indicou pra outra... Quando viu, era o queridinho dos famosos. O que, claro, lhe permitiu ter uma vida financeira mais tranquila.

Mas o foco do livro não é nisso, e sim nas origens do nosso protagonista. Ele nasceu em Véu-Vale, uma cidade peculiar, sem luz elétrica, em que algo bem assustador acontece. Quando ocorre um terceiro dia seguido de chuva, as pessoas escutam gritos. Ninguém sabe exatamente como tudo começou, mas todos têm conhecimento de que devem se manter em casa, de preferência rezando, até que o que quer que esteja gritando pare... Quem desafia essa regra corre um risco altíssimo de não chegar vivo ao dia seguinte.

Gualter deixou a cidade por vários motivos, mas algo lhe diz que é hora de voltar. Que, de alguma maneira, seu destino está ligado ao daquele lugar e, sem resolver as pendências que deixou, não conseguirá seguir em frente de forma plena com sua vida. 

Todos têm um futuro, mas poucos um destino.

A escrita do autor é bem fluida, e com certeza posso dizer que tudo o que li me convenceu. Me peguei pesquisando sobre as coisas citadas para saber se Draccon se baseou em lendas ou lugares que realmente existiam - e a resposta é sim, o que torna o enredo ainda mais interessante.

São muitas personagens e o livro não tem nem 300 páginas, então não são todas que conhecemos com detalhes. Mas algumas nos revelam suas histórias, e com todas essas me envolvi bastante. O autor mostra o quanto podemos errar quando teimamos em julgar as pessoas e presumir que elas se resumem ao que ouvimos falar delas.

Se a pessoa quiser ser melhor, ela vai ser melhor onde for. Só que o mundo olha pros outros e só vê de onde ela veio.

A única coisa que não me agradou no livro foi que achei a narrativa muito parada. Mas isso é porque, mesmo sem nunca ter lido nada do autor, sempre tive a impressão de que as obras dele seriam daquelas em que a gente fica até sem ar de tanta ação. 

Mas até o tipo da narrativa tem a ver com a história, Véu-Vale é um daqueles lugares que parece que pararam no tempo e em que cada um aceita que nasceu já com seu lugar na sociedade reservado, restando apenas aceitar seu futuro. Não daria mesmo certo a obra ter um ritmo diferente, no fim ele é bem adequado à história que é contada. Que aliás, nos fornece importantes ensinamentos.

Tu sabe que o valor da vida de um homem vem das histórias que ele pode contar, não sabe?