Oi gente!!
Depois de um tempo sumida, cá estou eu.
Primeiro, peço licença para o desabafo. Gostaria de dizer que quando saí de casa não foi para assistir "A Construção". Foi para ver "Cine Camaleão - A Boca do Lixo", que está em cartaz em um lugar chamado "Sede Luz do Faroeste".
Procurei na internet e vi que a estação mais próxima de lá era a Júlio Prestes (trem da CPTM). Peguei o metrô até a estação Barra Funda, onde teria que fazer baldeação para o trem. A plataforma de embarque estava quase deserta, e assim que cheguei passou ao meu lado um cara fazendo gestos e dizendo palavras um tanto quanto obscenas. Saí de perto dele e me posicionei ao lado de duas outras pessoas. Ele passou por mim e repetiu a cena anterior. Ficou andando de um lado para o outro e fez a mesma coisa mais duas vezes.
O trem chegou. Entrei. Na mesma hora ele, que estava um pouco distante, veio e entrou no mesmo vagão. Esperei o apito que anunciaria a partida e saí, sem dar tempo a ele de sair também.
Esperei o próximo trem. Quando vi o trajeto e me aproximei do local em que teria que descer e andar quatro quadras sozinha, tomei a única decisão possível: desci do trem e entrei imediatamente no que estava na plataforma ao lado, para voltar para casa.
E não é que vi o mesmo cara andando de um lado para o outro na plataforma, ao que me parece procurando uma nova vítima? Sinceramente, sinto muito pelas pessoas que têm que encarar esta realidade todos os dias. Nunca fiquei tão feliz e tão grata por não precisar da CPTM na maior parte do tempo!
Ao entrar no metrô respirei aliviada. E me lembrei de que havia uma peça em cartaz na Caixa Cultural que eu queria muito ver e que hoje faria sua última apresentação lá. O que nos leva ao tema principal desta postagem.
"A Construção" é uma peça escrita por Kafka (uma das últimas, e ficou inacabada). No palco, um homem preso em uma construção que tem uma falha que precisa ser resolvida, com a ameaça de um ser que lhe parece gigantesco e cava ao seu redor; a meu ver, um homem preso em seu próprio mundo, com medo de se aproximar das pessoas e de suas próprias falhas.
Uma frase me marcou: "Não é porque a falha está lá que tenho que vê-la a todo instante".
O ambiente ajudou a entrar no clima da peça. Como cheguei tarde, todos os ingressos já haviam sido distribuídos. Entrei na fila de espera. Passaram avisando que a chance de entrarmos era mínima, algumas pessoas foram embora, mas umas quinze resistiram até o último momento. Permitiram que nos sentássemos no chão. O desconforto e a escuridão fizeram com que eu me sentisse realmente debaixo da terra.
Eu amo o trabalho do Caco Ciocler. Desde o ano passado, quando vi um outro monólogo dele, 45 Minutos. Mostrava um ator tão descontente com o fazer teatral, uma vez que fazer arte torna-se cada vez mais difícil se você não se rende ao que querem fazer entender que seja arte; ou seja, se você não se rende ao simples entretenimento; que se apresentava como alguém que era obrigado a entreter a platéia por 45 minutos para poder morar num quartinho nos fundos do teatro.
Os dois trabalhos têm em comum o ator, o diretor, a pouca luz, a intensidade, o brilhantismo. Caco não volta ao palco para saudar o público em nenhum deles. Sinto falta disso, mas entendo que tem a ver com seu protesto particular. Ele quer se separar do espetáculo. Quer ser um trabalhador como tantos outros que não são aplaudidos ao fim da execução perfeita de uma tarefa.
Só sei que meus olhos não se desgrudaram dele em nenhum momento. Foram 50 minutos de tensão e de vontade de chorar de desespero, pois me sentia sufocada naquela construção. Ele me transportou para um outro lugar e, para uma atriz, não há prazer maior que o de assistir uma peça que consiga fazer isso, do início ao fim.
Serviço:
A Construção
Teatro SESC Pompeia
Texto: Franz Kafka
Direção, Tradução, Adaptação e Iluminação: Roberto Alvim
Teatro SESC Pompeia
Texto: Franz Kafka
Direção, Tradução, Adaptação e Iluminação: Roberto Alvim
Elenco: Caco Ciocler
Classificação: 16 anos
Duração: 50 minutos
Duração: 50 minutos
Temporada: De 10 de fevereiro a 25 de março
Sextas e sábados às 21 horas, domingo às 19h
(Segunda e terça de Carnaval às 21h, domingo de Carnaval, às 20h30)
Ingressos: R$ 16,00 (inteira)
Caramba! Quantas emoções para um domingo só!
ResponderExcluirFez bem em não andar 4 quarteirões sozinha, já que a intuição dizia que não! Beijos e boa semana! Elis.
Pois é, Elis... Na hora me deu pânico, só me acalmei depois de escrever!! Obrigada e boa semana pra você também! Beijos
ExcluirUau, que coisa incrível, Ju. Já passei por algo bem desagradável no ônibus quando um cara me assediou :s
ResponderExcluirÉ horrível, aqui em Taubaté não tem metrô mas não estamos livres!!!
Que interessante essa peça, eu com certeza pagaria para ver *-*
Imagino o medo que deve ter passado por você. Tenho muito medo de metrôs e ainda bem que moro no interior.
ResponderExcluirQue bom que você chegou bem em casa e que tenha dado tempo de assistir uma peça.
;)
http://pseudonimoliterario.blogspot.com.br/
Nossa Ju! Ainda bem que vc tomou a decisão certa, nem sei o que eu faria! Aqui onde eu moro não tem metrô e eu nem preciso de usar onibus mas as vezes tenho que voltar pra casa sozinha de noite e as ruas onde eu moro são escuras e desertas ja passei muito medo la! principalmente quando uma vez eu ia andando na rua e de um lado tinha um grupo de meninos e no outro um senhor velho (e claro que eu preferi ir do lado onde o senhor estava) mas pra que? o senhor foi e mexeu comigo eu gelei todinha na hr e atravessei a rua e no outro lado o grupinho tambem começou a andar atras de mim! me deu um desespero e eu apressei o passo e consegui chegar em casa!UFA! consegui falar tudo rsrs..
ResponderExcluirQue bom q vc chegou em casa bem, e adorou a peça :)
bem legal, gostei demais.. parabéns pelo post!Estou adorando o blog ja virei fã
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