segunda-feira, 21 de março de 2016

[Resenha - José Olympio] O papel de parede amarelo

Postado por Ju às 21:00
Título: O papel de parede amarelo
Autora: Charlotte Perkins Gilman
Tradução: Diogo Henriques
Editora: José Olympio
Número de páginas: 112

Um clássico da literatura feminista pela primeira vez no Brasil. Uma mulher fragilizada emocionalmente é internada, pelo próprio marido, em uma espécie de retiro terapêutico em um quarto revestido por um obscuro e assustador papel de parede amarelo. Por anos, desde a sua publicação, o livro foi considerado um assustador conto de terror, com diversas adaptações para o cinema, a última em 2012. No entanto, devido a trajetória da autora e a novas releitura, é hoje considerado um relato pungente sobre o processo de enlouquecimento de uma mulher devido à maneira infantilizada e machista com que era tratada pela família e pela sociedade.

O papel de parede amarelo nos apresenta a uma protagonista que se sente sufocada por sua própria rotina. O marido - que várias vezes ela diz fazer tudo por ela - alugou por três meses uma casa de campo, segundo ele, para que ela pudesse se recuperar de uma "doença" dos nervos. A mulher está proibida de fazer qualquer atividade, inclusive escrever, que é algo que ela adora, para que não se canse. 

Preciso dizer para vocês que odiei o marido logo de cara, e poderia citar vários trechos aqui para esclarecer o motivo. Vou deixar um só, embora um pouco longo, que fez com que eu me sentisse um tanto quanto enlouquecida. O conto foi escrito no século XIX, e tinha que me lembrar o tempo todo da situação das mulheres na época. Elas eram completamente dependentes dos pais, e depois dos maridos, não se esperava nem muito menos se desejava delas nenhuma atividade mais voltada para o intelectual. O importante era apenas ser o apoio do marido e cuidar bem da casa e dos filhos. Não me entendam mal, não estou dizendo que isso é pouco nem que é ruim. Apenas que me sinto tão sufocada quanto a protagonista só de pensar em não poder fazer essa escolha.

Há algo estranho nesta casa, posso sentir. Cheguei a falar sobre isso com John, numa noite de lua, mas ele disse que o que eu estava sentindo era uma corrente de ar, e fechou a janela, Às vezes tenho uma raiva irracional de John. Acho que isso tem a ver com meus nervos. Mas John diz que, se me sinto assim, acabarei perdendo o controle - portanto, faço um esforço para me conter, ao menos diante dele, e isso me deixa muito cansada. (...) John é muito atencioso e amável, não permite que eu dê um passo sequer sem instruções especiais. (...) se ocupa por completo dos meus cuidados, e, portanto, sinto-me uma ingrata por não lhe dar mais valor.

O engraçado é que a protagonista vive em constante conflito sobre se o marido lhe faz bem ou mal, ele não acredita que ela tenha alguma doença real, e como o irmão dela também é médico, os dois simplesmente resolveram que a única cura de que ela precisa é ficar sem fazer nada. A mulher não concorda, sente falta de poder se sentir útil e de exercitar o cérebro, mas que escolha ela tem? Só lhe resta passar seus dias e noites encarando um horrendo papel de parede amarelo no quarto em que o marido decidiu que ficariam - embora ela tenha pedido para ficarem em outro.

A narrativa da Charlotte é muito fluida, e o final do conto me surpreendeu bastante. Fiquei de boca aberta quando uma reviravolta aconteceu, e a autora fez isso com tal maestria que até voltei uma página para me certificar de que não tinha perdido nada. E não, eu não tinha perdido, ela simplesmente conseguiu mudar o rumo de forma genial de uma hora para a outra.

Das 112 páginas do livro, 60 são dedicadas ao conto. Nas outras 52, temos a apresentação de Marcia Tiburi e o posfácio de Elaine R. Hedges. Este último, particularmente, contextualiza bem o texto e nos mostra o quanto ele foi inspirado pela vida da própria autora, que acabou se separando por não conseguir se adaptar a uma rotina exclusivamente doméstica. Ela tinha a necessidade de trabalhar também fora de casa, necessidade que não teve como ser atendida enquanto seu casamento durou.

Não costumo ler muitos contos, mas esse me mostrou o quanto o gênero pode ser interessante. Não farei aqui uma análise das metáforas e de toda a profundidade contida nele - isso já é feito com muita competência nos textos extras encontrados neste volume. Acredito que isso poderia atrapalhar a leitura de alguém, eu mesma optei por ler o restante do livro somente depois de ler o conto propriamente dito, para poder ser surpreendida. Não li nem mesmo a sinopse antes. Espero que vocês tenham a oportunidade de conhecer essa história.

21 comentários:

  1. Olá, Ju! Adorei seu comentário sobre esse conto. Estou com ele aqui em casa também e pretendo ler em breve, foi muito legal essa ação do grupo editorial Record no mês da mulher, né? Confesso que sou, sim, feminista, e adorei os livros que recebemos, eu nem conhecia esse conto, mas agora estou muito curiosa. Parece ser uma leitura rápida, mas profunda.

    Beijos, Hel - Leituras & Gatices

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  2. Oi Ju,
    eu acho que não iria conseguir terminar de ler o conto por causa do marido. Que confusa essa protagonista. Não saber se ele faz bem ou mal. Hã? Só pelo quote acredito que ele faça mal.

    Beijinhos, Helana ♥
    In The Sky, Blog / Facebook In The Sky

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  3. Oie, parece se tratar de um conto muito bom, embora a capa não tenha me chamado muito a atenção.

    www.facesdeumacapa.com.br

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  4. Ola Ju confesso que o tema abordado como essa imposição do marido em fazer tudo para ela nos deixa de certa maneira irritada, adoro contos por sua intensidade e mesmo já com muita raiva do marido vou ler para saber sobre essa reviravolta que tanto lhe surpreendeu. beijos

    Joyce
    www.livrosencantos.com

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  5. Oii Ju, tudo bem?
    Eu achei lindo este livro, logo quando vi que as parcerias. Em relação ao livro eu não sei se leria no momento, o marido me deixou meio assim, desistiria eu acho hahaah mas, gostei muito da sua resenha.
    Beijão

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  6. oi tudo bem?
    Preciso ler mais livros clássicos, acredito nunca ter lido esse. Nossa, já no primeiro capítulo quem não vai gostar desse marido, parece que quer se livrar da esposa e a oprimindo. É por essas e outras que agradeço por apesar de tudo, termos evoluído na questão dos direitos das mulheres, do feminismo. E ser independente, não sei se saberia lidar com isso, talvez eu seria rebelde se tivesse nascido no século XIX.
    Beijos.

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  7. Parabéns pela resenha. Noto na sua crítica o mal-estar que a situação da protagonista provocou e isso só me deixou ainda mais curiosa, pois revela o talento da autora. Infelizmente, o passado das mulheres envolve relacionamentos abusivos dessa forma. Com uma disfarçada gentileza, havia uma soberania clara do marido sobre a esposa. Fiquei realmente ansiosa para saber qual foi esse desfecho tão mirabolante da autora! Hahaha. Anotei a dica.

    Beijos!
    http://www.myqueenside.blogspot.com

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  8. Oi Ju!

    Li esse livro assim que recebi justamente pelo fato de também não ler muitos contos, aí resolvi dar uma chance logo de cara. Menina, como que não fica com raiva de um marido desse? Tá bom que naquela época as coisas eram daquele jeito mesmo, mas meu Deus, é difícil de acreditar que a mulher não tinha nenhum tipo de direito, que ela era tão dependente... Também me impressionei muito com a reviravolta e as metáforas foram extremamente bem colocadas. Adorei de verdade o conto.

    Beijo!
    http://www.roendolivros.com/

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  9. Oi!!

    Não tenho o hábito de ler contos, mas recentemente li um livro dedicado a eles. Enfim, a história me pareceu cativante e digo mais, entendo muito bem essa questão da esposa se sentir reclusa dentro do seu lar. E, infelizmente essa era a realidade de muitas mulheres em épocas passadas que dependiam dos homens em uma sociedade machista.

    Beijos.

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  10. Olá!
    Achei bem bacana a sua resenha, só de ler fiquei com raiva desse marido que até desconfia da doença da mulher e a deixa sem fazer nada, o tempo todo deitada em uma cama.
    Deve ser muito interessante a forma como a protagonista fica em dúvida se o marido é bom ou ruim pra ela.
    Fiquei super curiosa com a reviravolta e, por ser uma leitura fluida, com certeza vou procurar para ler.
    Adorei a dica!
    Beijos!

    Karla Samira
    http://www.pacoteliterario.blogspot.com.br/

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  11. Oi, Ju! Bom, nem preciso ler o conto para, de cara, odiar o marido dela. Assim como você não sou leitora de contos, mas esse com certeza é um conto que eu pegaria para ler pois fiquei extremamente curiosa para saber o que é essa tal reviravolta no final.Beijos
    Sil - Estilhaçando Livros

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  12. Não leria o livro se não tivesse conferido sua resenha. A capa não me atraiu para ler a sinopse, mas que bom que você resenhou pra gente! Eu achei a trama envolvente, eu acho muito bom quando sentimos as mesmas coisas que o personagem, que nesse caso é angústia e essa sensação de prisão, prova que a leitura é fabulosa. Quero ler o conto!
    www.apenasumvicio.com

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  13. É um livro que sinceramente, não costumo ler, até passaria despercebido se eu visse na livraria, mas gostei da sua analise e fiquei curiosa para saber mais de O Papel de Parede Amarelo, que acredito que vai me trazer sentimentos conflitantes ao ler e claro, sua resenha me deixou tão curiosa sobre o enredo que preciso encontrar esse livro, pois é uma história diferente do que estou acostumada e isso me deixa entusiasmada para saber o que vou sentir ao ler.

    Da Imaginação à Escrita

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  14. Ooi
    Confesso que o nome e a capa do livro me desanimaram até de ler a resenha, mas insisti e não me arrependi.
    Que livro é esse?? Um tema super atual e importantíssimo. Como feminista, já acrescento o nome dele a lista de desejos
    Obrigada por ter nos apresentado ele, e parabéns pela resenha!
    Beijoos!
    www.estantemineira.blogspot.com

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  15. Ju, a capa não é das mais atrativas, mas achei sua resenha incrível e fiquei mega curiosa em ler o conto, que por sinal é um gênero que amo.
    Adoro quando a história retrata essa época em que as mulheres eram tão dominadas, mas há uma grande reviravolta.

    Lisossomos

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  16. Olá, tudo bem?
    Estou com o livro O papel de parede amarelo e ao saber que seria um clássico da literatura feminista me deixou bem intrigada, ainda nao li e foi otimo poder ler a sua resenha antes.
    Nem li o livro e para falar a verdade tb ja odeio o marido dela...
    Bom saber que a narrativa da Charlotte é muito fluida, vou ler com certeza, apesar de tb nao ler mtos contos como vc, quero tentar.
    Beijos.

    Livros e SushiFacebookInstagramTwitter

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  17. Oiiie! Eu também não costumo ler contos Pq sempre acho que por serem curtinhos não vou ter tempo de me apegar aos personagens e apreciar os detalhes. Nesse caso, por se tratar de um livro que conta a história de uma mulher oprimida, acho que eu adoraria ler sim e me sentiria como vc com relação ao marido dela. Bjossss

    http://www.porredelivros.blogspot.com.br

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  18. Oi, Ju!
    Tenho visto alguns comentários sobre a obra, e apesar de ficar um pouco curiosa com toda a representação da mulher antigamente, confesso que pulo a leitura simplesmente por imaginar o quão incomodada e angustiada eu provavelmente irei ficar com uma leitura assim. Mas o pior é saber que essa realidade foi tão séria no passado, e que algumas pessoas, mesmo atualmente, ainda parecem insistir nela. Deprimente, mas real e realmente um assunto que precisa ser discutido sempre que possível.
    Beijos!

    ♥ Sâmmy ♥
    ♥ SammySacional ♥

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  19. Olá!

    Olha, não o conhecia, mas se eu o lesse, ficaria com ódio do marido! Claro que naquela época, tudo era diferente, mas, sei lá, não consigo pensar na mente do século XIX, então, já leria com um pé atrás. A capa é muito bonita. Tentarei me arriscar nessa leitura.

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  20. Oie, tudo bem? Confesso que não conhecia esse conto, mas fiquei muito curiosa em ler. Essa capa, o contexto, e o enredo nos mostra que o livro parece ser bem forte. Mesmo tendo várias adaptações, nunca ouvi falar dessa história, uma pena :/ Sua resenha ficou excelente. Beijos, Érika

    - www.queroseralice.com.br -

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  21. Olá, tudo bom?
    nossa, pra curar a mulher de "seja lá o que for" ela tinha que ficar sem fazer nada? Eles queriam endoidar ela haha só pode. O ser humano precisa fazer algo da vida, ou então ele vai endoidar. A verdade é essa. Achei legal que o conto tem uma reviravolta bacana no final :D
    Curti que só.
    Bjs
    www.horadaleitur.blogspot.com.br

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