[Resenha - Autêntica] A Escrava Isaura

Título: A Escrava Isaura

Autor: Bernardo Guimarães

Editora: Autêntica

Número de páginas: 176

Skoob

Escrava de pele branca, a linda e doce Isaura foi criada e educada como filha na família a que pertencia. Durante muito tempo, foi a protegida da matriarca, que prometeu que, após sua morte, a moça seria liberta. Entretanto, esse desejo não foi atendido pelo filho e herdeiro da família, e Isaura se tornou propriedade de Leôncio, um jovem sem caráter que, mesmo casado, se interessava obsessivamente por ela. Para afastá-la do assédio de Leôncio e de outros homens da fazenda, o pai da moça, Miguel, um homem livre, tenta comprar a filha, mas não consegue. Decide então fugir com a moça para o nordeste do país. Os dois se instalam em Recife e adotam novos nomes. Lá, Isaura conhece Álvaro, rapaz rico, estudante, por quem se apaixona e é correspondida. Ele fica sabendo que ela é uma escrava fugida, mas não deixa de amá-la. Tendo sido descoberta e recapturada, Isaura volta para a fazenda de Leôncio, que a submete a castigos e humilhações porque não cede a suas investidas. Enquanto isso, Álvaro, que não desiste de sua amada, vai fazer de tudo para ficarem juntos. Publicado pela primeira vez em 1875, esse romance é considerado um marco na literatura abolicionista brasileira.

Isaura foi treinada em várias habilidades que uma escrava normalmente não teria. Era uma garota linda que sabia fazer tudo e até um pouco mais que as garotas da sociedade faziam. Sua proprietária desejava que ela fosse libertada após sua morte, mas seu filho tinha planos diferentes. Leôncio desejava possuir Isaura de todas as formas, mas não queria simplesmente estuprá-la, por exemplo. Queria que ela o quisesse, que entendesse que sua vida poderia ser muito melhor se aceitasse ficar ao lado dele. 

Claro que ela discordava. Preferia ser uma escrava como as outras e ter que realizar os piores trabalhos se pudesse se ver livre do assédio que vinha de todos os lados pelo fato dela ser uma pessoa tão singular. Em determinado momento, não lhe resta alternativa a não ser fugir. Seu pai, um homem livre, tenta comprá-la, por um preço pré-determinado pelo pai de Leôncio, mas ele também morre e mais uma vez o filho desrespeita um acordo. Então, Miguel vai com Isaura para o nordeste, na tentativa de livrá-la da obsessão daquele senhor. Mas a vida de uma escrava fugida não é nada simples e as coisas se complicam.

Sobre A Escrava Isaura, eu só sabia que tinha uma adaptação antiga pela Globo e que contava a história de uma escrava branca. Peguei para ler sem ter a menor ideia do que esperar. E preciso confessar que foi uma leitura desafiadora. Custei a me envolver de verdade com o enredo, o que só aconteceu por volta da página 70, quase na metade da obra. A partir daí a leitura fluiu bem e fiquei cada vez mais indignada ao ler mais um relato sobre a escravidão.

Não sei como alguém pode ter coragem de falar que os negros quiseram ser escravizados. Deve ser realmente muito agradável virar um objeto e não ter direito nenhum. Também não sei em que mundo algumas pessoas vivem para achar que negros e brancos têm sempre as mesmas oportunidades. Mas enfim, voltemos à obra.

O livro faz parte da coleção Clássicos Autêntica, possui o texto integral, páginas amarelas e diagramação confortável para a leitura. É curto, mas passa seu recado. Foi publicado treze anos antes da abolição da escravidão no Brasil, e imagino que tenha deixado bastante gente irritada na época. O final me surpreendeu demais. O desfecho foi rápido, o que em uma obra com menos de 200 páginas é compreensível, mas não deixou a desejar. Os protagonistas tiveram seus finais bem delineados e terminei a leitura satisfeita.