sábado, 5 de setembro de 2015

[Resenha - Universo dos Livros] Eu Sobrevivi ao Holocausto

Postado por Ju às 17:00
Título: Eu Sobrevivi ao Holocausto
Autora: Nanette Blitz Konig
Editora: Universo dos Livros

Como sobreviver a um campo de concentração? Estaria essa sobrevivência condicionada ao acaso do destino?  Em um emocionante relato, Nanette Blitz Konig conta a história de um período em que ela e milhões de judeus foram entregues à própria sorte com a mínima chance de sobrevivência. Colega de classe de Anne Frank no colégio, Nanette teve a juventude roubada e perdeu a crença na inocência humana quando esteve diante da morte diversas vezes – situações em que fora colocada em virtude da brutalidade incompreensível dos nazistas. Hoje, aos 86 anos, Nanette vive no Brasil e expõe suas lembranças mais traumáticas aos leitores. As cenas vivenciadas por ela fizeram os mais experientes oficiais de guerra, acostumados a todos os horrores possíveis, chorarem ao tomar conhecimento. Em uma luta diária pela sobrevivência, Nanette deveria suportar o insuportável para manter-se viva. Através de um depoimento ao mesmo tempo sensível e brutal, ela questiona a capacidade de compaixão do ser humano, alertando o mundo sobre a necessidade urgente da tolerância entre os homens.

Nanette é uma judia que conseguiu sobreviver ao Holocausto, mas não sem carregar feridas muito profundas. Primeiro, porque nem todos de sua família tiveram a mesma sorte. Segundo, porque presenciou cenas que nunca deveriam ser presenciadas por nenhum ser humano e que até hoje, com 86 anos, fazem com que ela tenha pesadelos; mesmo que durante parte do tempo que lhe foi tomado pela guerra ela tenha tido um "tratamento privilegiado". 

O que isso quer dizer? Que o pai era diretor do Banco Central da Holanda (mesmo que já tivesse perdido o emprego há algum tempo) e que por isso eles foram incluídos na Lista Palestina, em que eram colocados prisioneiros que poderiam servir como moeda de troca. Isso fez com que viajassem em trens normais com vagões de passageiros e não em vagões de gado completamente lotados; que pudessem manter as próprias roupas e poucos pertences (mesmo que seus bens de verdade, como sua casa, tenham sido confiscados) e que não tivessem seu cabelo raspado. Como podem ver, "privilégios" é uma palavra muito forte para definir.

A autora descreve sua vida desde antes do Holocausto até depois dele, mostra os anos felizes que passou ao lado da família podendo simplesmente ser um ser humano; passando pela perda dos direitos, como não poder usar transporte público, não ter permissão de entrar em vários estabelecimentos comerciais e precisar estudar em uma escola específica que foi criada especificamente para judeus, em que inclusive foi colega de Anne Frank (que voltou a encontrar em um campo de concentração); mostra as fases pelas quais passou desde que foi presa e tudo o que sofreu mesmo após a libertação - desde não receber ajuda nem simpatia de grande parte das pessoas até ter que lutar por anos com doenças adquiridas graças às condições a que foi submetida nos campos de transição e de concentração em que esteve.

As condições de higiene eram deploráveis e já havia escassez de comida quando havia um número razoável de pessoas, agora, com a superlotação, a situação era insuportável. A saúde de todos estava muito debilitada para terem forças para suportar tudo aquilo. Por esse motivo, as pessoas não paravam de sucumbir; as doenças já eram como prisioneiros permanentes dali também. A cada dia, em torno de quinhentas pessoas morriam, essa média deixava Kramer extremamente feliz, fazia que ele se orgulhasse de sua equipe.

Pode parecer estranho para quem não leu o livro, mas o capítulo que mais me destroçou foi o que fala da libertação de Bergen-Belsen, o campo de concentração em que Nanette estava. É chocante demais saber que encontraram 10 mil corpos espalhados pelo campo, e que 13 mil pessoas morreram mesmo depois da libertação por causa de desnutrição, tifo ou outros tipos de doenças. No meio do livro temos várias imagens, e foram as desse período as que mais mexeram comigo também. A mais aterrorizante de todas mostra valas lotadas de corpos, nem consegui olhar para ela direito. 

O mais chocante de tudo era que os nazistas cometiam as brutalidades com consciência limpa. (...) Quando uma ideologia se torna tão entranhada a ponto de sustentar barbaridades para um objeto abominável, é algo alarmante para qualquer sociedade.

Se olhar de relance para uma foto dessas já me causou um horror gigante, imaginem o que era conviver com algo do tipo. Ter que ver corpos por todos os lados porque ninguém se dava ao trabalho de recolhê-los, viver com higiene inexistente em um lugar que quando foi desativado tinha quase dez vezes mais pessoas que quando a Nanette chegou lá, sem que ninguém sequer pensasse em aumentar a quantidade de água e comida fornecidas. Por falar em comida, aliás, 2 mil pessoas das 13 mil que morreram depois do campo ser libertado morreram por não conseguir digerir a comida que receberam, de tanto tempo sem comer. As atrocidades cometidas nesse mundo não têm limite.

Infelizmente, não existe o botão "delete" na minha mente. Gostaria de poder apagar o que vi e vivi e, especialmente, a sensação de sofrimento. Esse sofrimento não estava só dentro de mim, estava fora. Eu respirava o sofrimento, ele fazia parte do meu mundo. Mas aí, penso: de que me adiantaria esquecer? (...) Esquecer é permitir que outros, nos nossos piores pesadelos, também possam passar por isso. Eu lembro para poder viver, porque esquecer é morrer e perder de vez minha família.

O livro foi escrito para que essa parte da história não possa ser esquecida e negada, para impedir que algo do tipo se repita. É o período histórico que acho mais doloroso, mas ao mesmo tempo o único que tem o poder de me interessar realmente. Eu Sobrevivi ao Holocausto tem relatos muito fortes, mas com certeza merece e precisa ser lido. 

Nunca vou conseguir superar e aceitar tudo o que aconteceu comigo, mas vou permanecer falando até os últimos dias, para que ninguém jamais possa afirmar que isso não aconteceu, e para que o mundo não esqueça as dores que a intolerância pode causar.

16 comentários:

  1. Oi, Ju! Geralmente não me interesso por livros de História ou que contam algo relacionado a História e para ser sincera Segunda Guerra nunca foi um assunto que me agradou, mas acabei ficando interessada nesse livro.
    A tristeza dessas pessoas é totalmente inescapável, so quem passou por essa situação pode realmente contar como foi viver aquilo; Perder tantas pessoas, sofrer tanto... Uma tristeza sem fim.
    Beijos.
    Blog Estilhaçando Livros

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  2. Oiii Ju!

    Acho que essa é a terceira resenha que leio sobre o tema por aqui. Eu não li nada do tema e até fico admirada ao ler suas resenhas porque sei que você tem um pouco de medo de algumas coisas e eu tenho medo desse periodo, na verdade não sei se é medo, mas eu fico tão triste, que não consigo fazer nada. Quando eu assisti um filme que aborda o tema chorei tanto que sempre vejo ele nas vitrines fico emocionada.
    Não consigo nem imaginar a tristeza de quem passou por esse periodo. Esses livros são excelentes para nos mostrar o outro lado e evitar que aconteça novamente.


    Beijinhos,
    www.entrechocolatesemusicas.com

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  3. Ju que livro tocante com o relato da protagonista hein, confesso que imagino um terço dos horrores que ela presenciou e já fico com a alma despedaçada ao ver a que ponto chega o ser humano. Gostei muito da resenha e quero ler o livro com certeza. beijos

    Joyce
    www.livrosencantos.com

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  4. Olá Ju! Nossa só lendo sua resenha, me deu uma aflição. Como você disse, se já ficamos chocados quando lemos sobre o assunto...Imagina quem viveu isso. É muito triste. parabéns pela resenha. beijos

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  5. Olá Ju, esse livro deve ser bem forte mesmo principalmente por ser um relato de uma pessoa que sobreviveu, mas que teve diversas perdas. Espero poder lê-lo em breve.

    Visite "Meu Mundo, Meu Estilo"

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  6. Oi Ju, tudo bem??
    Temática super forte ein.... fiquei aqui com o coração na mão durante toda a leitura de sua resenha...me senti tão envergonhada e tão devastada, que sinceramente não pretendo ler o livro... essa coisa de ler fatos reais.... é completamente doloroso, porque fico aqui imaginando as cenas e o sofrimento dessas pessoas... o que elas passaram... na verdade imaginar é algo tão vago sabe... porque foi tao cruel... tão desumano... que eu sinto nojo... infelizmente sentir nojo de outro ser humano está se tornando algo tão repetitivo, que eu sinceramente não sei onde iremos parar..... sua resenha ficou delicada e ao mesmo tempo muito intensa... seus sentimentos foram externados de forma inspiradora... xero!!

    http://minhasescriturasdih.blogspot.com.br/

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  7. Oi Juju, sua linda, tudo bem
    Nossa, fiquei toda arrepiada com sua resenha!!!!! Você me fez lembrar de cenas reais que vi em fotos e filmes. Esse é um período tão doloroso de nossa história, acho que não existe palavra no mundo que possa descrever tamanha crueldade. Com certeza um livro que precisa ser lido, daqueles que vai machucar, mas não podemos esquecer do que foi feito e temos que rezar para que não aconteça mais. Sua resenha ficou perfeita!!!!!!
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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  8. Olá!
    Eu realmente não curto livros com essa temática, chegam a me dar agonia :( Então esse livro é um que eu não leria... Mas acho que seria um prato cheio para quem curte o gênero (e fortes emoções).
    Ótima resenha!
    Beijos!

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  9. Oi Ju, tudo bem? Se apenas lendo a sua resenha eu já senti quão chocante o livro é, imagino para você que leu e viu as fotos, e ainda mais para a autora e todos os outros que vivenciaram essa realidade. Realmente, não dá para entender como o ser humano pode ser cruel com seus semelhantes, que uma mera diferença possa trazer tanta dor e sofrimento.

    Realmente dá vontade mesmo de esquecer dessa época, mas ao mesmo tempo, deve ser lembrada para que algo assim não exista mais... e admiro a força e coragem da autora reviver tudo isso ao escrever o livro... mas ao mesmo tempo é uma forma de desabafar tudo o que foi vivido durante esse período.

    Me interessou bastante, embora eu saiba que vai ser uma leitura bem tensa.

    Beijinhos,

    Rafa

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  10. Oi Ju,
    livros que relatam sofrimento, ainda mais sendo este tipo de sofrimento, causam uma angustia e dor no peito inexplicável. Sei como é, assim me senti lendo o diário de Anne Frank.
    Agora a este livro, eu já tinha visto o lançamento dele e senti interesse, sabia por cima o que tratava-se ele, mas não sabia das imagens e muito menos dos problemas causados, mesmo depois do fim. Ainda que seja forte, faz parte de uma historia horripilante e também necessária para conhecer mais sobre este holocausto, que se não for por relatos de quem passou por isso, saberíamos por cima e muito bem enfeitado.
    Estou, agora, bem curiosa para saber mais sobre a historia dela, e depois desta resenha me sinto mais tentada.
    Parabéns pela resenha, está perfeita!

    Beijos Ana Zuky

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  11. Oi Ju tudo bem, vi esse livro na Bienal e quase comprei, mas acabei esquecendo, mas sempre tive curiosidade de conhecer a história dela, mesmo sabendo como foi sofrido, para mim ela foi uma heroína! Bela resenha!
    Bjkas
    Dani Casquet- Livros, a Janela da Imaginação

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  12. Oi, tudo bem?
    eu não gosto de biografias, acho que pela estrutura de escrita. Mas gosto de ler coisas sobre a segunda guerra, principalmente sobre o holocausto. Acho que precisamos saber cada vez mais sobre a época, porque nada é impossível de acontecer de novo.
    Achei muito legal a passagem que mais mexeu com vc ter sido após a libertação. Muitas pessoas podem achar que a "libertação" resolveu todos os problemas, mas não, as sequelas são poderosas, e muitas vezes letais
    beijos
    http://meumundinhoficticio.blogspot.com.br/

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  13. Oláá
    Eu estou louca para ler esse livro pois conheci a autora, ela foi uma vez na minha escola dar uma palestra e foi super lindo, sou fã dela e da Anne, com certeza comprarei em breve.

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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  14. Olá!
    Este gênero de livro não atrai minha atenção, mas vejo o quanto são intensos e nos deixam sem fôlego! Parabéns pela resenha bem escrita! Adorei.
    Beijos, Nathália
    https://livrosdagarotavermelha.wordpress.com/

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  15. Adorei a resenha e ela só me fez desejar ler ainda mais esse livro. Inclusive a autora estará autografando o livro na próxima semana, em São Paulo, na Livraria da Vila.
    Bjs
    www.entrelinhasfantasticas.com.br

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  16. Oi, tudo bem? Eu nunca li um livro sobre esse período da história mesmo querendo muito ler, gostei da resenha e da premissa do livro. Esse parece ser um livro muito bom e vou ver se encontro para comprar por aqui.

    Beijos.

    http://livrosleituraseafins.blogspot.com.br/

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